10 coisas que precisa de saber sobre Guerra e Paz

1. Porque é que é TÃO longo

O tamanho de Guerra e Paz explica-se em parte devido ao tempo que Tolstoi passou a planeá-lo, a escrevê-lo, e a revê-lo e poli-lo depois. Os primeiros rascunhos e planos encontrados nos manuscritos de Tolstoi datam de 1856. A primeira parte do romance foi divulgada em folhetim no jornal The Russian Herald em 1865, e a primeira edição do romance completo foi publicada em 1868. Durante este período, Sofia, a mulher de Tolstoi, foi uma valiosa ajuda. Era a única pessoa que conseguia decifrar a caligrafia de Tolstoi ou lidar com a sua prática de escrever verticalmente nas margens das folhas, e chegou a copiar e datilografar sete versões do romance. Houve amigos comuns que declararam que ela se queixava de já o ter copiado 21 vezes! Sofia preservou todos os rascunhos de manuscritos de Tolstoi, tanto que após a morte do autor, o material relativo a Guerra e Paz ocupava 12 caixas de madeira.

2. Estaline usou Guerra e Paz como material de propaganda durante a Segunda Guerra Mundial
A vitória da Rússia sobre Napoleão em 1812 alimentou tanto o espírito nacional russo, que quando Hitler atacou a União Soviética em 1941, Estaline recorreu prontamente às obras de Tolstoi como forma de promover a defesa patriótica da terra-mãe. Reimpressões das passagens relativas a 1812 de Guerra e Paz foram produzidas em massa, e algumas secções foram colocadas em cartazes e posters em Moscovo para consumo imediato da população. Isto levou ao facto de, durante a Grande Guerra Patriótica, como os russos denominam a Segunda Guerra Mundial, Tolstoi ter sido o autor mais publicado, impresso e lido no país, ultrapassando largamente Lenine.

3. Porque se pensou ser Guerra e Mundo e não Guerra e Paz
No russo moderno, as palavras para «paz» e «mundo» são idênticas, um facto que levou ao mito urbano de que Tolstoi tencionava chamar ao romance Guerra e Mundo. O alfabeto cirílico foi modernizado depois da Revolução de 1917; antes disto, as palavras «paz» e «mundo», apesar de pronunciadas da mesma forma, eram escritas de forma diferente. A primeira vez que Tolstoi escreveu o título nas suas primeiras versões, fê-lo acidentalmente com a palavra «mundo» em vez de «paz». No entanto, não há nada que sugira que tivesse sido algo mais do que o mero deslizar acidental da caneta.

 

4. Não era todo escrito em russo

Na Rússia Imperial, o francês tinha-se tornado a língua preferida da aristocracia, que tinha adotado costumes europeus depois das reformas introduzidas por Pedro o Grande e Catarina a Grande. Depois da Revolução Francesa, porém, a língua e a cultura francesas começaram a tornar-se menos «na moda» na Rússia. Em Guerra e Paz, Tolstoi tende a mostrar personagens a falar francês quando pretende indicar a sua falta de contacto com os autênticos valores da Rússia. Muitos leitores na altura desgostaram dos diálogos em francês, e estes foram traduzidos para russo na terceira edição do romance em 1873. No entanto, na quinta edição de 1886, editada por Sofia, as passagens em francês mantiveram se.

5. Natacha foi inspirada na cunhada de Tolstoi
Tatyana Behrs, a irmã mais nova de Sofia, mulher de Tolstoi, era uma visita frequente à casa dos Tolstoi em Yasnaya Polyana. Sofia teve alguma dificuldade em adaptar-se à vida isolada e algo austera do campo, e a presença de Tatyana trazia uma injeção de alegria, vivacidade e risos femininos, que era muito bem-vinda. Tolstoi tinha uma grande afeição pela pequena Tatyana. A sua vivacidade e espontaneidade ofereceram a inspiração à personagem Natacha Rostov. Muitos episódios do romance, como a jovem Natacha pedir a Boris que lhe beije a boneca, ou o desespero depois de ela ser abandonada por Anatole, foram retirados de incidentes que de facto aconteceram na vida de Tatyana.

6. Guerra e Paz é contra a pena de morte
Em 1857, Tolstoi testemunhou um guilhotinamento em Paris. O acontecimento marcou-o profundamente e convenceu-o do erro moral que é a pena de morte. Esta sua visão fortaleceu-se quando, anos mais tarde, lhe foi pedido (enquanto proprietário com responsabilidade governativa local) que defendesse um soldado ante uma pena de morte num tribunal de guerra, e ele perdeu o caso. Tolstoi expressa os seus sentimentos através da personagem de Pierre Bezukhov, que nota com horror a ansiedade dos soldados franceses chamados à execução de prisioneiros de guerra russos.

 

7. Pierre Bezukhov significa «Pierre, O Sem Orelhas»
Muitos dos apelidos das personagens fictícias são nomes de proeminentes famílias russas da aristocracia com uma ou outra letra mudada, como Bolkonski, de Volkonsky, o nome de família da mãe de Tolstoi. Tolstoi não tencionava com isto sugerir similaridades entre as personagens fictícias e as reais, em vez disso pretendia criar um mundo que fosse familiar e autêntico para os leitores russos. Bezukhov, por outro lado, é um dos poucos apelidos inventados no romance. «Sem Orelhas» pareceu ser para Tolstoi, na altura, uma designação adequada para uma personagem confusa e que não tivesse ainda encontrado o seu lugar na sociedade aristocrata russa.

8. Tolstoi ridiculariza as fontes históricas
Tolstoi investigava o contexto histórico de Guerra e Paz com exaustão, lendo tanto os documentos históricos russos como de outros países da Europa sobre as campanhas de Napoleão. Também visitou o sítio onde decorreu a batalha de Borodino (a 115km a oeste de Moscovo). O seu objetivo nem era tanto assegurar a exatidão do local em si, mas demonstrar os erros dos dados históricos. Isto evidencia-se num episódio da segunda metade do romance quando Lavrushka, o servo de Nikolai Rostov, é temporariamente capturado pelos franceses e interrogado defronte de Napoleão. Tolstoi cita uma versão da história do historiador francês Thiers, e ironicamente oferece a sua própria versão cómica. A sua mensagem consiste no facto de a sua versão ser tão plausível e credível como a do historiador.

9. Não é só um romance...
A preocupação de Tolstoi com os problemas dos dados históricos levaram-no a divagar do enredo das personagens fictícias para capítulos em que debate o signifi cado da História como disciplina e como modela a nossa compreensão da civilização humana. A segunda parte do epílogo do romance é inteiramente devotada a esse tipo de divagação filosófica. Desde a primeira publicação até hoje, a opinião divide-se em relação ao interesse e relevância dos ensaios históricos. O romancista francês Flaubert queixava-se ao escritor russo Turgenev, «Ele repete-se! Ele põe-se com filosofias!» Assim como as passagens em francês, a receção múltipla aos ensaios históricos de Tolstoi levaram-nos a ser apagados ou mudados para um apêndice na terceira edição. No entanto, foram restaurados na quinta edição pela mulher de Tolstoi, Sofia.

10. Nem sequer é um romance...
O próprio Tolstoi acreditava que a inclusão dos seus ensaios tornava difícil uma categorização deste trabalho como um romance. Para acompanhar a publicação do texto completo do livro em 1868, ele escreveu uma nota explicativa intitulada «Algumas palavras sobre Guerra e Paz» na qual ele diz em tom jocoso «O que é Guerra e Paz? Não é um romance, muito menos um poema, e ainda menos uma crónica histórica. Guerra e Paz é aquilo que o autor desejou que fosse e conseguiu expressar na forma em que é expressa.» Nesse mesmo ensaio ele respondia ou apaziguava os leitores que se lhe dirigiam com questões e reclamações sobre as passagens em francês, as divagações nos factos históricos e a relação entre pessoas reais e personagens fictícias com nomes semelhantes.
Publicado em 22 Julho 2015

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