Eleanor & Park - Crítica no Chaise Longue

Existem livros cujas premissas, simples e repetidas, sobejamente conhecidas e mil vezes contadas, nos fazem antever, antes mesmo da primeira palavra, o que irá acontecer. Sabemos o início, o meio e o fim de cor e salteado. Facilmente digerido, facilmente esquecido. E Eleanor&Park poderia ser um desses livros, teria sido tão fácil cair nos clichés de tantos outros. Mas, apesar da sinopse nos remeter para uma dessas premissas, este livro não é, de todo, esquecível. Simples sim, na narrativa, mas nunca, nunca previsível ou banal. É aliás, daqueles livros que tornam a simplicidade a coisa mais bela, verdadeira e intensa que podemos ter. Rainbow Rowell consegue, com uma escrita fluída e sem adornos, contar-nos uma história com humor e inocência mas não esperem leveza. Cada página deste livro é intensa, maravilhosa e opulentamente emocional, repleta de sentimento e sensações. Cada página deste livro é como apaixonarmo-nos pela primeira vez. É como sentirmos pela primeira vez as borboletas no estômago. É o primeiro toque, o primeiro beijo. A primeira vez que nos apercebemos que podemos ser muito mais do que vemos ao espelho, que as convenções e as possibilidades. É o momento em que nos descobrimos. É todas as primeiras estonteantes primeiras vezes.

De uma forma real e verdadeira, como se tivesse acontecido a qualquer um de nós, esta história de amor desenvolve-se vagarosamente, timidamente, docemente. Começa pela indiferença, transforma-se em curiosidade relutante, amizade inesperada, química explosiva. Torna-se amor nas páginas de banda desenhada e nas letras das músicas, nas cores do cabelo, na suavidade da pele. É quase irresistível a forma como a narrativa capta as sensações, como nos demonstra e relembra o significado de gestos como dar a mão, abraçar ou beijar pela primeiríssima vez. São tão reais as dúvidas, os medos, as expectativas, a coragem de dar pequenos passos em direcção ao paraíso. É tão deliciosamente penosa a combustão da inocência e inexperiência do amor só em palavras e olhares, para a atracção do toque e exploração de lugares desconhecidos. Com Eleanor e Park, revivemos e vivemos as fases complicadas, meio lunáticas e perdidamente sonhadoras do amor em bruto, aquele em que ainda não conhecemos as fases ou as formas. Aquele em que aprendemos as voltas e reviravoltas de entregarmos tudo sem pedir nada em troca, mas desejando as estrelas inteiras.


Mas, não só de felicidade estática se escreve as páginas deste livro. Ele também se escreve de dor atroz, de medo incontrolável. Fala da família, de como nos influencia, de como, sem querer ou forçosamente, impõe um caminho. De como o meio de onde vimos, bom ou mau, influencia quem somos, como pode algemar-nos a uma ideia. Expõe a fraqueza de ver tudo ruir e permanecer impávida, elogia a coragem de não se conformar. Faz-nos aperceber que, por mais que amemos e conheçamos uma pessoa, nunca entenderemos a sua realidade senão a experenciarmos. Ensina-nos que um objecto, um gesto, uma palavra banal para nós, pode ser uma preciosidade para outra pessoa. E se somos expostos a uma casa onde o horror se vive de manhã à noite numa eternidade sem fim, também entrámos numa onde, apesar das expectativas por vezes exigentes, o amor e compreensão abundam sem limites ou reservas. E se aprendemos que existem paredes que nunca poderão ser derrubadas, também percebemos que existem muros que podem ser diminuídos. E se o presente não poder ser o futuro, pelo menos descobrimos de forma perfeita o mundo em redor. Pelo menos, teremos recordações que nos farão sorrir quando estivermos mais em baixo. Haverá sempre esperança que o amanhã traga tudo de volta.


Eleanor e Park. Adoráveis, ingénuos, ternos, estranhos. Duas personalidades, uma unidade. Eleanor com a sua coragem e maturidade, mas cujo temor e inocência a prendem ao sarcasmo e não a deixam crer em nada nem ninguém. Park com a sua doçura e entusiasmo, a sua revolta q.b. E a ingenuidade de quem sempre foi amado. Distintos, diferentes, mas duas faces da mesma moeda. Opostos que se atraíram pela estranheza e curiosidade. Dois miúdos cujo amor, cuja história extraordinária, nos conquista e enternece.


Nada, ninguém poderá levar alguém que não leu este livro a entender o seu poder de atracção. Nenhuma opinião, nenhuma expressão poderá explicar quem são Eleanor&Park e como o seu amor é diferente. Podem ler o que quiserem sobre este livro mas só lendo as páginas dele poderão entender o porquê da adoração que Rainbow Rowell tem sobre os seus leitores. Acreditem em mim. Eu fiz tudo isso e nada me preparou para aquilo que Eleanor&Park é.

 

Publicado em 13 Fevereiro 2015

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