À Boleia pela Galáxia - Crítica na Magazine HD

Existem livros que, ao serem adaptados, perderão a sua qualidade. Com isto, o que quero dizer é simples: existem livros que nunca darão um bom filme. “À boleia pela galáxia” é, sem dúvida, um dos casos para gritantes.

Comecemos pelo livro dizendo o seguinte: se chegarem à internet e pesquisarem os Tops dos melhores livros de sempre de Ficção-Científica, quer seja um top criado por votação de leitores ou por opinião de críticos especializados, a verdade é que o Top 10 raramente muda. Livros como “1984″ou “O Jogo Final” (título original: Ender’s Game) estarão sempre presentes. Este “À boleia pela galáxia” (título original: The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy) está sempre nesse Top 10. Para os mais distraídos, este livro está em 4º lugar no top da BBC dos livros mais adorados de sempre (lista The Big Read)!

Venerado em todo o mundo, quer por leitores, quer por críticos, o autor Douglas Adams viu o seu livro ganhar rapidamente o estatuto de obra-prima num género que raramente é reconhecido.

boleia pela galáxia

Este, o primeiro de cinco livros da saga, foi terrivelmente adaptado para o cinema no ano de 2005. Cá em Portugal o filme passou ao lado, e com ele um livro que todas as pessoas deviam ler.

Agora, o que nos dá o enredo deste livro? Em primeiro lugar temos de explicar que se trata de um livro cómico de ficção-científica, onde nas primeiras páginas o planeta Terra é destruído e os personagens principais viajarão pelo universo, procurando várias respostas às mais antigos questões da humanidade. A questão é: consegue um livro cómico alcançar a profundidade filosófica e moral necessária para levar um leitor a pensar sobre questões às quais ainda não temos respostas? Sim, e é aí que está a genialidade.

O humor negro (por vezes, simplesmente absurdo no bom sentido da palavra) não são mais do que cuidadosos “socos no estômago” do leitor, ao colocar no ridículo muito do que vemos e fazemos no nosso dia a dia, e com isso nos rimos, acabando numa leitura muito agradável. Mas, então, porque não pode este livro dar um bom filme?

douglas adams a boleia pela galaxia

A resposta é, simultaneamente, simples e complexa. Apesar de a história estar bem pensada, o que torna este livro genial é a escrita do autor. O seu humor, as pequenas dicas que dá, a ironia que usa para falar de Governos, Religião, Economia, Filosofia… Esta narrativa é impossível de ser adaptada, fazendo lembrar um outro caso muito estudado: “O Grande Gatsby”, que também nunca conseguirá ter no grande ecrã a qualidade que tem nas palavras do livro, porque a narrativa não se consegue adaptar às limitações do filme.

Quando o filme saiu em 2005, muitos fãs não acreditavam que o filme pudesse ser bom e tal confirmou-se. Mas os problemas não se ficaram pela adaptação da narrativa, pois as diferenças são tantas que toda a história passa de “surreal e inteligente” para simplesmente “sem sentido”. Existem muitas diferenças, inclusive nas próprias personagens, que alteram o enredo, o desfecho do filme e, principalmente, a mensagem que a obra tenta transmitir, que na adaptação não existe.

a boleia pela galaxia

Claro que o filme também tem aspetos positivos mas nunca, em nenhum aspeto, está perto do livro. Demonstrada tal discrepância, enumerar as diferenças deixa de fazer sentido, pois não é por aí que o leitor poderá fazer a sua escolha. Aqui a escolha é apenas uma: ler o livro. Claro que não será fácil para alguns, pois é preciso ter sentido de humor e a capacidade de começar a ler um livro que no início não faz sentido, mas no fim acontecerá uma de duas coisas: ou não gostaram nada, porque simplesmente não faz o vosso género, ou então terão adorado e aclamarão este livro como uma obra prima.

Fica aqui o desafio: dêem uma oportunidade a este livro e não se limitem a lê-lo e a rir… questionem cada frase, tentem perceber o significado de cada ação, de cada piada e de cada momento em que nada parece fazer sentido, e quando voltarem a colocar o livro na prateleira, terão percebido que leram um dos livros mais inteligentes feito nos últimos anos.

Se gostam de leituras leves, inteligentes e com significado, e acima de tudo, que vos façam rir, este é o vosso livro. Infelizmente é também um exemplo de como, em algumas situações, é impossível um filme chegar à qualidade do livro, tal como o contrário também existe em certas ocasiões.

“Este planeta tem (ou melhor, tinha) um problema que era o seguinte: a maioria das pessoas que nele vivia andava infeliz a maior parte do tempo. Muitas soluções foram sugeridas mas a maior parte estava relacionada com o movimento de pequenos pedaços de papel verde, o que é estranho porque, na verdade, não eram os pedaços de papel verde que andavam infelizes.”

Publicado em 13 Agosto 2013

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