A Estrada do Tabaco - Crítica no Deus me Livro



A Estrada do Tabaco” (Saída de Emergência, 2014) – “Tobacco Road” no original -, de Erskine Caldwell (1903-1987), clássico da literatura americana publicado em 1932, cuja acção se passa no Sul dos Estados Unidos, Georgia, durante a Grande Depressão, não nos deixa indiferentes. Como acontece com todas as grandes obras, as questões que coloca este romance o tempo não apagou nem respondeu.

Com a crise em que vivemos, essas questões de base voltam a ter toda a inquietante actualidade: O que acontece quando o Homem é abandonado pela civilização que criou e ajudou a criar? O que acontece quando os meios de sobrevivência caem um a um e o Homem não consegue mudar a sua natureza nem as suas circunstâncias?

Os Lester, família rural, que apenas conhecem a plantação de algodão e tabaco como meio de subsistência, possuidores de terras, vêem todo o seu modo de vida cair por terra quando a sociedade lhes retira toda a possibilidade de produzir e vender. Não há mais dinheiro para adquirir os meios de produção, os juros levam qualquer lucro e os impostos expropriaram-nos, tornando-os mendigos a prazo nas suas próprias terras. A indiferença do mundo perante os que se tornam fracos é preocupante.

Sendo um romance curto, que se lê depressa e facilmente, deixa mesmo assim uma marca algo dolorosa no leitor. Mas, apesar da sordidez e da degradação física e sobretudo moral, tudo isto é contado com alguma complacência e humor sem cair no excesso de violência e ainda rimos. As orações da pregadora Bessie, na sua inocência ou ignorância religiosa, inventando Deus à medida do seu egoísmo, fazem-nos rir. O autor, ele próprio, era filho de um pastor presbiteriano.

O estado da Geórgia é fértil em grandes autores e obras da literatura. Basta recordar “E Tudo o Vento Levou”, de Margaret Mitchell, contemporânea de Caldwell, publicado na mesma época, cuja acção no mesmo Sul decorre durante a Guerra Civil Americana e bem nos recorda a sociedade que antecede esta com a sua economia baseada no trabalho escravo nas plantações de algodão.  E ainda Carson McCullers ou Flannery O’Connor, ambas escritoras da Geórgia, que nos dão retratos pungentes deste Sul da América.

“Tobacco Road” foi adaptado ao cinema por John Ford em 1941.

Publicado em 21 Outubro 2014

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