A Estrada do Tabaco - Crítica no Livros a Doi2

"A Estrada do Tabaco" é um livro sobre a pobreza, a económica e a de espírito. De ignorância e egoísmo, racismo e brutalidade. Uma tragicomédia que atinge o leitor nas suas emoções, que deverá sentir-se preparado para ficar chocado com a sua leitura.
 
É um livro que à primeira vista não seria uma escolha de leitura imediata, provavelmente por não ser um tema que me apelaria de forma significativa, mas que me prendeu do princípio ao fim, ao ponto de o ler com uma cadência que há muito não me acontecia.

A sua leitura é fácil e complexa ao mesmo tempo. A escrita é facilmente acompanhável, o livro é pequeno e de capítulos relativamente curtos, mas torna-se complexo pelo tema em si e pela brutalidade com que o autor expõe as suas personagens. Mas é extremamente directo, o que nos leva sempre a procurar o que vem a seguir, quebrando apenas o ritmo quando o personagem principal, Jeeter, utiliza o seu discurso altamente repetitivo, tipo lengalenga, mas que não é mais do que o autor a caracterizar-nos a personagem.
 
Esta obra apresenta-nos a família Lester, um conjunto de seres humanos patéticos, preguiçosos e incrivelmente egoístas, seres esses que sinceramente muito pouco se distinguem do animal irracional. São personagens que nos conseguem constantemente chocar com tanta estupidez, mas por mais que os seus actos nos pareçam surreais, o que realmente nos mexe com as emoções é que eles "soam" tão reais. E não é só na sociedade Americana dos anos 20, pois nos dias de hoje, por este mundo fora existem tantos "Lesters".
 

Será o livro é de rir até às lágrimas como diz o "The Daily Beast", não o é, de maneira nenhuma, a não ser que o leitor seja de uma insensibilidade gritante. Na verdade há alguns momentos que nos consegue tirar um sorriso mas não mais do que isso, de tão trágico que realmente é.

É um clássico que merece ser lido, e que apesar de ter sido escrito há mais de 80 anos ainda hoje consegue se manter actual. Pelo menos comigo o autor foi bem sucedido, retirou-me da minha zona de conforto, provocou-me e deixou-me com o livro na memória. É uma obra de uma enorme qualidade mas da qual não tiramos prazer da sua leitura, fascina mas não agrada. Para o ler e tirar partido da experiência de leitura é preciso estar preparado para não encontrar beleza e felicidade, apenas a pior imagem possível do ser humano, é o grotesco no seu melhor. Bom trabalho Erskine Caldwell.

Publicado em 11 Dezembro 2014

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