A Estranha Morte da Europa entrevista ao autor no Diário de Notícias
Esteve em Lampedusa, em Lesbos e na fronteira da Hungria com a Sérvia. Testemunhou a chegada e acolhimento de migrantes e de refugiados a uma UE sem saber o que fazer, apesar (ou por causa) do apelo de Angela Merkel. Para este jornalista inglês, a Europa tem de encarar o problema da migração em massa, porque corre sérios riscos. As suas conclusões estão no livro agora publicado em Portugal, A estranha morte da Europa
Hoje [ontem] é o Dia da Europa. Temos motivos para celebrar?
Sim. Temos muito para celebrar. Somos um milagre extraordinário, não somos? A juventude europeia não tem ideia da nossa sorte.
Associou à migração em massa o aumento de criminalidade, de violações e de terrorismo. E uma das explicações que dá para a inação é o sentimento de culpa dos europeus.
Uma das nossas obsessões é o sentimento de culpa. O direito à autocrítica e à crítica à sociedade é positiva, mas a ideia de carregarmos a culpa dos nossos antepassados pode ser problemática se formos os únicos no mundo a senti-lo. Os turcos nunca o fizeram em relação ao Império Otomano. Porque é que os países europeus que tiveram impérios devem definhar neste estranho mercado em que publicitamos ao mundo que somos os únicos culpados? Somos masoquistas no mercado internacional de sádicos. Há muita gente que gosta do nosso passado para beneficiar do nosso presente. Temos de encontrar uma abordagem razoável em relação ao nosso passado para podermos ter uma abordagem para o nosso futuro. Os jovens são ensinados a ter ódio e dúvida de si próprios. Esse é um dos fatores que permitem a imigração em massa.
Um dos motivos que aponta para a crise europeia é o vazio cultural e religioso, mas a expiação dessa culpa é um paradoxo.
Certo. Uma das coisas que escrevi é que mesmo para quem não seja religioso, a nossa cultura está repleta de imagens cristãs. A música pop está cheia de letras com anjos e amor eterno. Nietzsche previu um pouco isto no contexto pós-religioso, é o sentimento de culpa sem meios plausíveis de redenção. É onde estamos agora, não sabemos como nos redimirmos do colonialismo e das guerras, do comunismo e fascismo. E há este movimento na política e nos media que no diz que a única forma de nos redimirmos é abolirmo-nos. Seria um grande desastre não só para nós mas para o mundo se a Europa parecer-se mais com Mogadíscio.
Na semana passada, o líder anti-imigração Tore Rasmussen, da Geração Identitária, foi detido no aeroporto e expulso do Reino Unido. O norueguês ia participar num debate sobre multiculturalismo. O que acha?
Ainda é cedo para perceber o que vai ser esse movimento. Há dez anos aconteceu o mesmo a Geert Wilders [o holandês anti-islão], que era deputado. Acho que as autoridades veem todas as pessoas dos movimentos anti-imigração como arruaceiros. Se não estão a infringir a lei é muito autoritário fazer julgamentos sobre os seus direitos de viajar e de se reunir. E há muitas pessoas no Reino Unido com outros pontos de vista e passados e podem dizer o que querem. Decidirmos o que se pode ou não dizer é entrar em areias movediças.
Refere no livro o presidente do Centro Islâmico de Luton, que não diz coisas agradáveis sobre as mulheres, os homossexuais e os judeus.
As autoridades reconhecem o problema, mas não querem que haja grande consciência pública.
Argumenta que a imigração em massa e o multiculturalismo falharam. Mas o consenso político mantém que nada pode ser feito em contrário.
O multiculturalismo foi uma ideia inventada em resposta à imigração em massa. E nos últimos 20 anos as pessoas começaram a perceber que não era uma boa ideia, quando houve os tumultos no norte de Inglaterra em 2001, ou nos banlieues de França, em 2005. Mas se um governo diz que não exigimos nada de vós, façam o que quiserem, e agora dizem devem ser como nós, é um grande salto. Ninguém pensou este tipo de coisas.
O brexit é uma oportunidade para os britânicos reclamarem os valores europeus?
Ainda é cedo para dizer, mas temos sido muito bons a lixar tudo [risos]. Penso que foi por isso que os britânicos votaram para sair, entre outras coisas por causa da migração. Creio que as pessoas querem que as fronteiras tenham controlo. Pelo menos as fronteiras externas da Europa. E o que se passou foi que quase só os estados do sul é que fizeram essa segurança. Foi um desastre. E depois a chanceler Merkel em 2015 fez uma declaração que teve repercussões para o continente inteiro.
Porque é que nessa altura os líderes europeus não fizeram nada para partilhar refugiados com os países do Golfo?
É uma grande, grande peculiaridade. Cito um líder do Golfo [do Kuwait], que alega que os sírios são muito diferentes. É esta a irmandade muçulmana. Estive em vários pontos de entrada, vi os barcos chegarem. Não subestimo a profundidade da miséria e desespero humanos que existem no Médio e Extremo Oriente, na África subsaariana e no norte de África. Mas presumir que a Europa pode resolver os problemas do mundo por si só, convidando o mundo inteiro a entrar, é um mal-entendido catastrófico. Caímos numa armadilha na qual organizações não governamentais alegavam que pessoas a fugir da guerra e pessoas a fugir da pobreza não tinha diferença. Mas faz. É que a maior parte do mundo é pobre.
Concorda com alguns críticos do islão que dizem que a natureza da religião, ao não separar a fé individual com a sociedade e com o Estado, é uma forma de fascismo, o chamado islamofascismo?
O islão não o é necessariamente, há muçulmanos moderados e progressistas. Mas há formas da religião que são altamente fascistas e que estão em crescimento na Europa, sem dúvida. Muitos casos estão descritos no livro.
Esses críticos apontam a responsabilidade para a esquerda, os "idiotas úteis".
Em termos genéricos a esquerda vê o islão numa galeria de várias minorias em sofrimento. Mas esquece-se de que quando o islão está em maioria atua de forma forte e sem piedade, diria. É muito impopular dizê-lo, mas não é igual um milhão de católicos ou um milhão de muçulmanos entrarem na Europa, para o bem ou para o mal.
O líder dos trabalhistas, Jeremy Corbin, foi acusado de cumplicidade com posições antissemitas.
O partido apela para o voto muçulmano e nada faz para acabar com essas mensagens porque depende desse voto. Os representantes de Bradford no parlamento, de três partidos, têm uma coisa em comum, serem desonestos sobre os judeus e Israel. Em nome da diversidade tornamo-nos intolerantes!
Em Lisboa, a Câmara expropriou imóveis para construir uma mesquita.
Liberdade para se construir uma mesquita não se pode negar, mas os políticos fazerem da construção de uma mesquita uma virtude porque é de uma religião diferente, é complicado. Tem de se estar atento ao que lá se prega. Vejam o que aconteceu na Bélgica, onde as mesquitas tinham sido entregues aos sauditas. A minha experiência sobre os dirigentes Europa fora é que sobre o islão não sabem do que estão a falar. E quando sabem não o admitem em público.