A Fúria dos Reis - Crítica no blogue Refém das Letras

Após terminar Muralha do Gelo com um misto de contentamento e surpresa, foi com enorme curiosidade que iniciei A Fúria dos Reis. Os acontecimentos do volume anterior deixaram-me numa enorme ânsia quanto a conhecer o futuro desta história, que se apresentou surpreendente, singular e intensa. Mesmo só conhecendo o estilo de Martin através dos volumes iniciais, sabia que até o impossível o autor tornaria possível. E, mais uma vez, Martin não decepcionou.

Embora seja evidente que o ritmo deste livro é bem mais pausado no que se refere à própria acção (sendo esse o único ponto menos bom presente na obra, que não diminui de forma alguma a sua qualidade), as escaramuças continuam a ser travadas nos Sete Reinos de uma forma quase que silenciosa e misteriosa. Este é, essencialmente, um livro em que as personagens apresentam as suas estratégias de guerra e as começam a por em prática, para que possam vencer ou apenas alcançar a paz num reino onde a corrupção é o mote central. Cada um vê-se cercado e inundado por inúmeras oportunidades, mas qual será a que conduz à desejada saída e aquela que guarda um fim tenebroso? Estar atento é fundamental, pois até o mais ínfimo pormenor que escapa pode ser fatal.

As intrigas tornam-se cada vez mais profundas ao haver mais personagens em destaque. O autor introduz-nos neste volume pontos de vista de novas personagens, tais como Davos, Stannis e Theon. A primeira, não muito importante, é apresentada imediatamente no início do livro, de modo a introduzir um novo cenário relacionado com Stannis. Já este concebe uma figura consistente que surge em vários pontos da narrativa, intercalando-se com as outras personagens. Rapidamente se evidencia que Stannis é mais um elemento cujo propósito é o mesmo de todos os outros: o poder. No entanto, a forma pela qual Stannis tenta alcançar a coroa é diferente de todos os outros, pois Stannis detém uma arma secreta, bastante ousada. Se será eficiente o seu plano, apenas os próximos livros o dirão. Mas o final deste livro transmite a ideia de que a sua escolha foi a correcta para a sua finalidade. Quanto a Theon, o autor serve-se da sua obstinação delineada por uma certa ingenuidade para apresentar formalmente outra das grandes Casas, a Casa Greyjoy.

A conquistar também mais destaque encontra-se Tyrion. Este anão tem vindo indubitavelmente a impressionar-me com a sua presença de espírito e mente brilhante, provando que as aparências escondem a essência do ser. No meu ponto de vista, Tyrion é, até agora, a personagem mais interessante em toda a obra de As Crónicas de Gelo e Fogo, quer pela sua impressionante perspicácia quer pela imprevisibilidade que nele é característica.

Ainda a assumir importante relevância encontram-se Arya e Sansa, as irmãs que, apesar de bastante jovens e particularmente diferentes, são forçadas a crescer perante toda a hostilidade que enfrentam. Ambas mostram inteligência e perseverança, não fossem elas pertencer a uma das mais nobres Casas dos Sete Reinos.

Por contraste, afiguram-se Jon, Catelyn e Daenerys que perdem a sua liderança, recuando para um plano secundário, se bem que Catelyn seja a personagem mais activa das três. Uma vez que Jon está ligado aos outros membros da família Stark, é possível conhecer-se os seus passos por outros pontos de vista, o que não acontece com Daenerys, raramente mencionada pelas outras personagens. Ela é aquela que anteriormente mais me cativou, e por isso esperava para a mesma um grande desenvolvimento por parte do autor. Tal não aconteceu neste livro, mas certamente acontecerá nos próximos.

Martin continua a manter-se fiel a uma escrita cuidada, pormenorizada e fortemente implacável. A cada ponto de vista, o autor apresenta um registo muito próprio que nos permite contactar com a camada mais interior de cada personagem. Assim, consegue-se facilmente conhecer cada uma delas e quais são as suas intenções e percepções mais intimistas, de uma forma que por vezes é calma e suave, enquanto que em certos momentos é tão crua e directa que chega a surpreender.

Ainda outro aspecto que merece destaque é a revelação de mais um pormenor do fantástico, mesmo no capítulo final. Embora esta obra tenha qualidades mais que suficientes para existir sem essa vertente da fantasia, é aí que reside a minha maior curiosidade. Aos poucos, percebe-se que será um factor deslumbrante e que fará desta história uma verdadeira obra-prima. Só espero que o título do próximo volume, O Despertar da Magia, reflicta o que de facto decorrerá no sublime universo de Westeros.

É, portanto, com grande entusiasmo que termino mais um excelente livro de George Martin. Uma narrativa que, embora pausada, faz transparecer o que reside no âmago de cada uma das suas personagens, dando-nos um vislumbre daquilo que poderemos presenciar quando o derradeiro combate irromper nos Sete Reinos.

Publicado em 20 Dezembro 2012

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