A Senhora da Magia - Crítica no blogue As Histórias de Elphaba

Em tempos longínquos, em terras governadas por homens fortes e suseranos acima de todas as outras vidas a guerra era constante e as mulheres, esposas, ficavam abandonadas nos seus lares por tempo indefinido e com uma instabilidade precária.
Eram tempos de mudança, tempos em que a magia tinha um estreito laço com as mulheres, tempos em que a feitiçaria ia sendo derrotada de dia para dia pela fé cristã mas, enquanto Avalon persistisse, nada estava irremediavelmente perdido.

A Senhora da Magia é o primeiro livro da série As Brumas de Avalon e introduz-nos numa época maravilhosa onde o cristianismo começou a dar os seus primeiros passos. Tendo como alicerces principais a mulher e a sua ligação à magia, esta é obra é considerada um clássico e apresenta-nos uma mistura perfeita os géneros histórico e fantástico conduzindo-nos, como se de um espectro nos tratássemos, para um universo paralelo.
A falecida autora Marion Zimmer Bradley tem uma escrita apropriada para o tempo em que é narrada a acção, bem como, para com momento em que a escreveu o seu livro (1982) e embora, esse facto, acabe por se traduzir numa leitura um pouco morosa a verdade é que a grandiosidade do seu enredo nos abstrai totalmente oferecendo uma motivação crescente conforme nos vamos ambientando na história.

Eu fazia parte do leque de leitores que adora fantasia e que ansiava por mergulhar nas famosas Brumas e a verdade é que me questiono como é que aguardei tanto tempo.
As personagens deste livro encontram-se, regra geral, trabalhadas ao pormenor sem que percam uma parte do mistério e da incerteza que as torna tão atractivas para o leitor. Morgaine, como protagonista, é quem comanda a maior parte da história narrando-a, diversas vezes, na primeira pessoa por forma a introduzir-nos em momentos específicos ou alterações temporais. Importa frisar que esta mesma personagem evolui com a narrativa que decorre num período extenso  (mais de uma década).
Algo que me agradou em particular, e que abrange grande parte dos intervenientes, é o factor surpresa que proporcionam devido a variações de posição e carácter que estão, por sua vez, dependentes do destino e das premonições efectuadas em Avalon deixando-nos constantemente expectantes.


O cenário dominante Arturiano é prodigiosamente descrito pelo que o leitor não sente qualquer dificuldade em enquadrar-se nas maneiras e costumes utilizados na época. Outro pormenor, interessantíssimo, recai sobre as estratégias e conselhos de guerra e, juntamente com estes, a forma como ardilosamente o cristianismo se foi introduzindo nas cortes e no povo colocando de parte a magia e as curas que até então faziam parte da nobreza.

Em jeito de nota pessoal atrevo-me a dizer que a autora tinha uma tendência para defender um conceito bastante feminista para o período em que estava inserida o que é visível pela forma como apresenta as personagens Morgaine e Viviane que embora muito sacerdotais e dedicadas à magia e força da mulher, adorando a Deusa Mãe, não deixam de ter por detrás dos seus feitos uma meta que visa a influência política que se vem a revelar indispensável para concluir a predestinada ascensão de Arthur a senhor suserano dos povos da Bretanha.

Pessoalmente, embora me tenha custado um pouco o inicio do livro devido à escrita e à complexidade do enredo, retirei desta leitura um prazer imenso. As intrigas, a mística e as descrições de cenários deixaram-me maravilhada e, mais para o final, senti-me completamente presa à trama e ansiosa por saber os próximos passos de Morgaine e o que estará predestinado para o futuro de tantas outras personagens. Saliento apenas que é importante não esquecer que este é o primeiro livro, existe toda uma introdução necessária para que consigamos abarcar a totalidade do que está a ser desenvolvido.

Quanto a Marion Zimmer Bradley o seu mérito é incontestável e já está mais do que demarcado não me contenho, no entanto, de alertar que todos os leitores habituados a escritas mais comerciais e enredos leves poderão vir a sentir um pouco de dificuldade até encontrarem o seu ritmo de leitura e envolvência com as personagens que, no final, não vos irão desiludir.

Uma grande, grande aposta Saída de Emergência que mais uma vez surpreende os fãs da Colecção Bang! com um autor titânico que merece especial destaque em qualquer estante. Recomendo a todos os curiosos que arrisquem que não se irão arrepender. Gostei!

Publicado em 9 Maio 2012

Arquivo

2023

2022

2021

2019

2018

2017

Visite-nos em:

Revista Bang Instagram Nora Roberts facebook youtube
Amplitude Net - e-Business