A Voz - Crítica no blogue Uma Biblioteca em Construção

"Chamavam-lhe 'A Voz' porque a não tinha".

Inspirada no universo de Efémera, Anne Bishop  apresenta A Voz, uma novela que explora a necessidade de utilizar o outro de modo a obter a própria felicidade.

A trama é narrada na primeira pessoa, por Nalah, uma rapariga comum que assiste a um episódio bastante perturbador aos 10 anos. A partir desse momento, Nalah não consegue esquecer o que viu e tenta procurar uma explicação para certas medidas do funcionamento da sua aldeia. A jovem reage de forma diferente a todas as outras pessoas da sua aldeia, já que o hábito é fechar os olhos à verdade de modo a não comprometer o bem estar geral. Mas a protagonista não aceita isso, o tempo faz com que a necessidade de obter resposta cresça, mas cada passo que na direção da verdade faz desenvolver a revolta.

Numa fase inicial, Nalah é uma menina igual a tantas outras, mas quando percebe que existe uma pessoa a ser usada em benefício de toda a aldeia começa a desenvolver uma alterar-se. Depois disso, conhecemos uma Nalah com 17 anos. A menina alegre e brincalhona deu lugar a uma jovem silenciosa, de poucos amigos e de formas pouco elegantes. Esta protagonista é a representação de quem questiona a sua sociedade, de quem não se conforma com a ordem imposta, de quem não intende a necessidade de os mais fracos sofrerem em benefício dos mais fortes. É fácil simpatizar com esta personagem que não fica incólume aos erros a que assiste.

Através da visão de Nalah conhecemos a Voz, uma rapariga muda e forçada a uma vida de servidão onde ninguém procura conhecer a sua opinião e os seus sentimentos. Anne Bishop criou esta personagem de forma a representar de que forma o sofrimento e a angústia são capazes de destruir um ser. A Voz é alimentada através de bolos que possuem no seu interior a dor dos aldeões, o que nos leva a pensar na forma como o ser humano pode sentir necessidade de empurrar para os outros os seus problemas. Também o papel da mulher volta a ser explorado por Anne Bishop neste livro, quer seja por as suas opiniões não serem consideradas tão fortes quanto as dos homens quer seja por ter de se sujeitar a relações abusivas.

Apesar de ser um livro curto, existe ainda espaço para simpatizar com mais personagens e para detestar outras. As amigas de infância de Nalah, Tahnee e Kobrah, mostram como as circunstâncias da vida podem mudar completamente uma pessoa, como podem transformá-la em alguém feliz e realizado ou alguém vingativo e destrutivo. E enquanto estas mulheres fazem surgir em nós sentimentos de compaixão, já Chayne e Dariden são dois rapazes que apenas desejamos ver castigados no final devido à crueldade das suas ações e pensamentos.

No final de ler este pequeno livro, pensei se não teria sido melhor se a autora tivesse explorado mais esta trama. Claro que fica sempre a vontade de conhecer e saber mais, até porque esta foi uma história que me agarrou, mas acabei por concluir que não, que assim ficou bem. Como está, percebemos bem o enredo, criamos empatia com as personagens, captamos a mensagem que a autora quer transmitir e ficamos satisfeitos com o desfecho. Está tudo na quantidade certa e existe um bom equilíbrio de elementos.

A escrita de Anne Bishop apresenta as características às quais já nos habituou. Entramos neste mundo sem grandes dificuldades, apreciamos a os cenários que a autora descreve assim como as emoções. A magia encontra-se presente, apesar de isso não ser feito de uma forma direta. Também os elementos peculiares de Efémera estão lá, mas de um modo bastante subtil.

A Voz é uma leitura rápida mas intensa que os fãs de Anne Bishop não vão querer perder. Recomendo.

Publicado em 18 Março 2013

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