Algo Maligno Vem Aí - Crítica no blogue As Histórias de Elphaba

Complexa, irreverente e, extremamente, encantatória é carta de apresentação da recente aposta Ray Bradbury pela mão da editora Saída de Emergência.
Rompendo todas as convenções actuais e comerciais que se vão publicando na área do fantástico, esta narrativa clássica surpreende pelo magnetismo que acompanha o seu enredo e a peculiaridades das suas personagens, independentemente do papel que desenvolvem ao longo da trama.

Como a sinopse indica, o circo chega à cidade onde Jim e Will moram. Eles são unha com carne, são quase irmãos, são duas metades um todo fascinante. No dia-a-dia, noite-a-noite, eles exploram, inventam, conquistam e testam todo o seu pequeno universo repleto de possibilidades, possibilidades essas multiplicadas, triplicadas, infinitas com a chegada de um lugar tão mágico como um circo. Ele chega de noite, estranho, banal e atraente, a sua chagada faz-se acompanhar de música, promessas, cores e risos, de sustos, sombras, brincadeiras perversas e, teme Jim, teme Will, de algo incerto que não devem, mas querem, descobrir.

Como leitora fazedora de opiniões não posso, nem quero, contar-vos muito mais relacionado com esta história que é tão simples quanto envolvente e que gira, quase na totalidade, em torno da chegada deste circo e dos acontecimentos que este provoca na vida destes dois jovens. Dividido em apenas três partes – Chegada, Perseguições e Partida –, este livro não deixa no entanto de envolver e criar impacto no leitor graças aos muitos pormenores que recaem sobre as suas personagens, as suas descrições e à apresentação do texto, desigual, de Ray Bradbury.

Os dois grandes protagonistas desta trama, Jim Nightshade e Will Halloway, são absolutamente enternecedores, não que tenham algo de extraordinário, mas sim graças à ligação entre ambos está muito bem conseguida apresentado-os como opostos e, ao mesmo tempo, simétricos, completando-os como uma unidade perfeita. Ambos são crianças inteligentes e de imaginação fértil mas, sem dúvida, que o melhor adjectivo para os qualificar é como curiosos, o que lhes trará muito dissabores ao longo do texto. Quem também não posso deixar de nomear é Charles, o pai de Will, que acaba por ter um papel fundamental, representando de forma singular a imagem da criança que deverá viver para sempre dentro cada um.
Quanto aos intervenientes do circo, o Sr. Dark é realmente assustador, um pesadelo para as mentes jovens mais frutíferas, no entanto todos os outros, a bruxa, o anão, o esqueleto, são também eles dotados de uma caracterização exímia, principalmente devido à forma como Jim e Will os representam, fabulando-os, temendo-os e, ao mesmo tempo, desejando conhece-los sempre mais. É muito interessante.

Este livro não causaria o mesmo impacto se todo o ambiente que envolve a leitura não trabalhasse também nesse sentido e, quanto a isso, as descrições da cidade e do próprio circo reproduzem inúmeras sensações que nos trespassam com o folhear e se adensam enquanto mistérios e enigmas se desenvolvem neste texto maravilhoso, ideal para os leitores de fantasia adultos.

Ray Bradbury tem uma escrita excepcional, rica e primorosa, muito pouco usual e, por isso mesmo, fascinante.
O autor tem algo de hipnotizante na forma como trabalha as suas palavras, embalando-nos numa aura sombria relacionada com o circo, um local de felicidade mas que por vezes pode ser arrepiante.
Esta não é, de todo, uma leitura comercial mas sim algo clássico, e também diferente, que os adeptos de maravilhoso e horror têm obrigatoriamente de experienciar.

Pessoalmente, demorei um pouco a ambientar-me com a escrita do autor mas depois de entrar no contexto da história adorei. É inegável a grandiosidade de Ray com a beleza, quase lírica, da sua narrativa em prosa, que brilha com um ritmo e vida muito próprios.
Gostei principalmente do que me foi dado a ver, das questões relacionada com o circo, com a psique infantil e de todo terror que consegui sentir, que sendo assustador não deixou de ser fascinante.

Esta obra é mais uma grande aposta Saída de Emergência no seu género de eleição, fantasia, que certamente surpreenderá e transportará novos fãs para este reino extravagante da ficção.

Publicado em 20 Novembro 2012

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