Algo Maligno vem aí - Crítica no blogue D311nh4

Uma escrita belíssima!
Não é à toa que se fala de Ray Bradbury com tanto fulgor. Nunca vi nada igual. Há uma originalidade e um à vontade com as palavras que evidencia a literatura como arte. Simplesmente não consigo descrever como é a escrita, não consigo explicar os métodos que são usados, isto porque acredito que eles não existem realmente e fazem parte do autor. Denota-se uma alma impressa em cada palavra, em cada descrição, em cada frase. Estas, ora seguem o estereótipo da narrativa poética, com a utilização de adjetivos, metáforas, na utilização de frases "longas" (em inglês - mesmo traduzido - nenhuma frase é demasiado longa); como nos presenteia com uma escrita oralizada, numa simplicidade complexa.
Entendem? É das tais situações em que se diz: "Só vendo", neste caso, "só lendo".

Quanto ao enredo, confesso que, apesar de não estar nada à espera do que me foi mostrado, não é deslumbrante, mas não deixa de deslumbrar.

Conhecemos dois amigos, Jim e Will, e o pai deste último. Aqui, há uma construção muito intimista das personagens, que é, sem dúvida, trabalho de mestre. Há uma profundidade nos pensamentos e comportamentos destes três intervenientes que demonstra como Bradbury é dotado de uma sensibilidade, uma intimidade, uma capacidade de reflexão filosófica que o eleva ainda mais e atribui outro valor à sua obra.

O que encontramos em "Algo maligno vem aí" não é propriamente uma história de terror, mas sim um desassossego no leitor.

Um circo de aberrações chega à cidade (o livro foi originalmente lançado em 1962, logo, a ideia não cai no cliché) e traz consigo mistérios que vão mudar a vida dos dois amigos.

Jim, movido pela curiosidade, e Will, movido por Jim, descobrem que o senhor do circo, Sr. Dark,  tem ao seu dispôr oferendas que mexem com a vontade, o medo e com o desespero humano.
Afinal, quem nunca ansiou, demasiado novo, pela idade da independência? Quem nunca desejou voltar aos anos pródigos, quando a velhice alcança?

Carrosséis que ora andam para a frente, ora para trás; labirintos de espelhos, que refletem horrores ou louvores; um homem ilustrado que respira dor; dois jovens a encontrarem-se e um  velho que se perdeu de si mesmo.

Não é um livro fácil, mas é leitura obrigatória para quem coleciona obras-primas.
Para ser lido com calma, atenção e com predisposição para a reflexão.

Publicado em 11 Dezembro 2012

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