Anne Bishop - Entrevista na Revista Estante

A americana Anne Bishop, uma referência na escrita de fantasia, visitou Lisboa e rendeu-se aos portugueses. Em entrevista à Estante, percorreu as obras mais marcantes, falou de heróis e vilões, de criaturas sobrenaturais e do fantástico como escape do mundo real.
 

Veio a Portugal para participar no Festival Bang!. O que achou da nossa comunidade de fantasia, ficção científica e terror?

É incrível! O festival foi muito bom. Havia miniaturas – que toda a gente adorou – e alguns elementos de steampunk, o que foi fantástico. Acho que estavam lá mais de 300 pessoas. Havia um grande entusiasmo no ar.

É a sua primeira vez em Portugal?

Sim. Lisboa é linda. Tive oportunidade de ir até ao rio, ver o arco [da Rua Augusta] e a Praça do Comércio. Adorei a cor dos edifícios e o facto de parecer que são um só. Há uma continuidade que transmite força. Por isso, sim, estou a desfrutar imenso.

E agora falando de livros… O seu mais recente, Cartas de Profecia, é o quinto volume da saga Os Outros. Para alguém que ainda não está familiarizado com esta história, o que tem de especial para cativar tantos leitores pelo mundo fora?

Mostra-nos uma Terra alternativa onde os seres sobrenaturais não são humanos que se transformaram em vampiros, lobisomens ou metamorfose, mas uma espécie diferente que nunca teve humanidade e que, ao longo dos milénios, tomou a forma dos seus predadores, os humanos. Por isso há uma fricção entre humanos e os Outros, que são muito mais orientados para a natureza e não percebem a razão da existência de fábricas e de zonas industriais.

É uma história muito contada através do olhar dos Outros – portanto, através da perspetiva de um lobisomem ou de um corvo – e que contém elementos como terra, ar, fogo, água, inverno, verão, primavera e outono, que são verdadeiros seres com o poder de decidir o que acontece às personagens. Isso joga contra a perceção humana e os leitores divertem-se imenso.

De onde veio a ideia para esse mundo paralelo?

Anos antes de ter começado a escrever esta história, lia muitos livros sobre vampiros e lobisomens e era sempre divertido. Então pensei: “Um dia gostaria de escrever um livro sobre vampiros e lobisomens, mas tem de ser diferente daquilo que toda a gente está a fazer.”

Demoro cerca de um ano a escrever um livro, por isso tinha de ser algo que me intrigasse o suficiente para me manter nesse mundo. E houve uma altura em que dei por mim a pensar: “E se os Outros fossem uma espécie diferente? E se todas as suas ramificações fossem diferentes dos humanos? O que aconteceria ao mundo?” Essa foi a faísca.

Depois juntei as profetisas de sangue – que são raparigas que têm visões do futuro sempre que a sua pele é cortada – e as instituições que as mantinham presas e as tornaram uma propriedade, algo para ser usado e abusado. E depois surgiu a ideia de uma pessoa que consegue escapar e que revela a todos os outros seres aquilo por que passou.

Demorou um ano a escrever o primeiro livro, mas durante quanto tempo teve a história a germinar na sua cabeça?

Três anos. Pequenos pedaços da história foram-se formando ao longo de três anos antes de esse mundo começar a solidificar. Ao fim desse tempo, tinha uma história que queria contar e um grupo de personagens.

Pensei que se quisesse ser escritora tinha de escrever coisas mainstream, mas não era assim que o meu cérebro funcionava. O meu cérebro quer magia.
 

Este quinto livro da saga, em particular, pinta um cenário em que os humanos estão numa posição muito frágil e em que a paz é ameaçada por uma personalidade disruptiva. Consegue estabelecer paralelos entre esse mundo e o nosso?

Muitas pessoas encontram esses paralelos, mas eu tento não os procurar. Porque se tentasse fazer isso conscientemente…

Perderia a magia.

Sim. É muito fácil fazer com que uma história soe moralista e eu não gosto de histórias assim, não gosto de escrever histórias assim. Apenas peguei nesta ideia de Terra vs. Indústria e deixei que isso jogasse com a personalidade da história. Se estiver a fazer isso corretamente, existem certas camadas que podem ter interpretações diferentes.

Cabe aos leitores encontrá-las.

Precisamente. O que é sempre divertido.

Como se escreve uma história em cinco ou mais volumes? O que tenta fazer para manter o interesse dos leitores?

Neste caso não tinha a certeza de que seriam cinco volumes. Sabia apenas que havia coisas que queria contar. No primeiro livro [Letras Escarlates] tudo girava à volta da Meg [protagonista]: iria ela sobreviver? Seria capaz de se manter no Pátio [zona controlada pelos Outros]? Depois, porque no primeiro foram dadas várias pistas sobre drogas que estavam a ser usadas para causar problemas entre os Outros e os humanos, o segundo livro [Bando de Corvos] é a história da revelação dessas drogas aditivas. O terceiro [Visão de Prata] foi sobre a libertação das outras profetisas de sangue e a descoberta do que lhes aconteceu. No quarto [Marcado na Pele] temos a guerra. No quinto, o rescaldo – tudo está destruído, os humanos voltaram para locais isolados com predadores a rodeá-los e aparece uma pessoa que, pelas suas próprias razões egoístas, tenta manipular tudo o resto. Isto é o Cartas de Profecia.

Então sempre soube qual seria o arco da história.

Sim, sempre soube que haveria este arco, mas não sabia em quantos livros isso se traduziria. Acabaram por ser cinco.

Cartas de Profecia é, definitivamente, o último livro da saga?

Bem… É o último livro sobre este grupo de personagens.

Quer dizer que está a trabalhar num novo livro?

Sim. Este [mostra marcador de livros que trouxe consigo] é o Lake Silence. É passado no mundo dos Outros, mas é sobre um novo grupo de personagens e uma nova cidade. Tem um tom diferente, tem aquele feeling de cozy mystery.

Temos uma humana que é colocada numa situação de ter de lidar com os Outros e vemos o mundo segundo a perspetiva dela, o que é diferente da Meg porque a Meg nunca foi considerada presa. A Vicky sabe que é uma presa, ninguém dos Outros se esquece que ela é algo para comer, mas têm uma razão para não o fazer e para a ajudar.

Este livro sai em março de 2018 nos Estados Unidos, mas aquele em que estou a trabalhar agora mesmo passa-se noutra cidade chamada Bennett, uma cidade fronteiriça, que foi destruída durante a guerra. Então vamos ter um grupo de pessoas que vai para essa cidade tentar reconstruí-la.

Se começares a misturar Jane Austen, Rod Sterling e Edgar Allan Poe, eventualmente chegas onde o meu cérebro está.
 

A trilogia das Jóias Negras é outro grande marco da sua carreira. Diria que é a sua história mais violenta e erótica?

Sim. É um mundo sombrio que sempre foi pensado para ser muito sexual e violento. Esta era a cultura deles, mesmo quando estavam em controlo. Quando as coisas perdem o controlo, vemos o pior dessa cultura. É muito mais obscuro e aborda temas como a violação, o abuso de menores… São temas difíceis, mas era algo que fazia parte desse mundo.

Foi difícil escrever sobre tudo isso?

Não, porque a trilogia das Jóias Negras foi a minha estreia. Quando é o nosso primeiro romance, não temos ideia do que estamos a fazer e simplesmente deixamo-nos levar. Houve realmente muita coisa difícil de escrever, mas eu sabia que, no fundo, era uma história sobre amor: amor romântico, amor de irmãos, amor entre pai e filhos. Por isso, quando tinha de me sentar todos os dias para escrever uma cena mais obscura, estava constantemente a relembrar-me de que eles [personagens] ficariam bem. Não tinha a certeza disso, mas continuava a dizer a mim mesma: “Eles vão ficar bem.”

O que lhe dá mais prazer em termos de escrita: heróis ou vilões?

Heróis. Para poder escrever de forma honesta tenho de ser capaz de ver o mundo através dos olhos de qualquer que seja o personagem e entrar na pele de um vilão pode ser muito desconfortável.

Escrevi uma trilogia chamada Tir Alainn – que era mais sobre bruxas e a Inquisição – e o vilão dessa história era o principal inquisidor. Tenho de confessar que, de todas as personagens e de todos os vilões que escrevi, esse foi o que verdadeiramente me assustou. Foi muito desconfortável estar na pele dele, porque era persuasivo, perverso e conseguia fazer com que as pessoas acreditassem que ele só lá estava para as ajudar.

Os vilões podem ser algo muito difícil de criar porque não queremos pensar como eles, mas por um momento tenho de acreditar naquilo em que eles acreditam. E quando o dia acaba só quero… [ri-se enquanto sacode os braços como se estivesse a livrar-se de más energias]

Se pudesse ser qualquer criatura sobrenatural, qual seria e porquê?

Isso é difícil… Depende sempre do dia.

Então como se sente hoje?

Bem… [risos] Os metamorfos e os lobisomens são sempre divertidos. E há uma personagem minha chamada Tess que é extremamente perigosa e transmite o seu estado de espírito através do cabelo. Dependendo de quão encaracolado está ou da cor, sabemos exatamente quão perto estamos de ser mortos. Acho que seria incrível ter um cabelo assim [risos].

E uma das coisas que mais adoro no mundo dos Outros são os póneis, porque são elementos da natureza tal como os trovões, os relâmpagos, as avalanches ou os furacões. São pequenos e rechonchudos, mas acabam por ser uma força da natureza. Por isso, gostaria de ser alguém que pudesse brincar com esses póneis de forma segura [risos].

Recebo muitas cartas de pessoas que têm alguém no hospital e que dizem que estes livros são um escape enquanto recuperam.
 

Diria que a fantasia é o melhor escape da vida real?

Sim. É um escape e um espaço para respirarmos. Particularmente se as coisas estão a correr mal. É uma forma de irmos para outro lugar durante um bocado. Mas o que mais gosto na fantasia é que devido ao cenário, que é sempre mágico, temos a capacidade de contar verdades emocionais. Temos a capacidade de explorar o coração de uma forma que permite que os leitores não sintam que alguém está a criticá-los.

Recebo muitas cartas de pessoas que têm alguém no hospital e que dizem que estes livros são um escape enquanto recuperam. Ou de pessoas que estão a passar por algum tipo de crise nas suas vidas e que precisam desse espaço para respirar e para ver outras personagens a ultrapassarem as suas dificuldades.

Então a fantasia é também uma inspiração.

Inspiração e esperança. Recebemos essa sensação de esperança através da magia, dos unicórnios…

E dos póneis.

Sim, e dos póneis também [risos].

O que a levou a explorar o género da fantasia urbana?

As pessoas falam de fantasia urbana porque se desenrola numa Terra alternativa e numa cidade. Mas, para mim, o rótulo não interessava. Era apenas um lugar. Mas foi divertido, porque as minhas personagens podiam usar calças de ganga, comer pizza, conduzir, ir às compras e eu não tinha de inventar nomes diferentes para explicar algo como o café ou as roupas. Eles puderam viver num mundo facilmente identificável, mas estranho. Foi muito divertido conjugar o vulgar com o invulgar.

Quando começou a sua paixão pela escrita e, mais concretamente, pela fantasia?

Já inventava histórias na minha cabeça antes sequer de ter aprendido a escrever. Lembro-me de ver séries de televisão enquanto criança e de fazer uma espécie de fan fiction antes de toda a gente lhe chamar fan fiction, mas não conseguia escrever essas ideias porque era demasiado nova para conseguir escrever palavras. Continuava a imaginar as histórias na minha cabeça.

Mas houve algum livro ou série em particular que a fez pensar: “É isto que quero fazer para o resto da minha vida.”

Adorava The Twilight Zone [em português, A Quinta Dimensão] e histórias de terror, por isso comecei por escrever coisas assustadoras. E westerns assustadores, porque gostava muito de westerns quando era mais nova. Algo que agora voltou, porque Bennett [cidade do novo livro] é parcialmente uma cidade western – temos lobisomens que são xerifes, por exemplo. Estou, por isso, a voltar às minhas raízes de fantasia e westerns. Esse é o meu normal.

Durante algum tempo, pensei que se quisesse ser escritora tinha de escrever coisas mainstream, mas não era assim que o meu cérebro funcionava. O meu cérebro quer magia. E, assim que reconheci isso, foi natural começar a escrever sobre o sobrenatural, o assustador, o maravilhoso e o mágico. Quando estou a escrever, é nesse mundo que vivo.

Adorava The Twilight Zone e histórias de terror, por isso comecei por escrever coisas assustadoras. E westerns assustadores. Agora estou a voltar às minhas raízes.

 

Publicou o seu primeiro romance aos 43 anos…

Sim, foi em 1998.

Publicar pela primeira vez relativamente tarde foi uma decisão sua. Sentia que não era madura o suficiente para publicar antes? Ou foram as circunstâncias da vida?

Bem, eu escrevia histórias quando estava na escola, mas depois tive de ir para o mundo real e arranjar um trabalho. Não voltei a escrever até ter 30 anos e aí comecei com contos. Publiquei alguns e só em 1990 é que comecei a escrever a trilogia das Jóias Negras.

Escrevi acima de tudo para mim mesma, para me divertir. Não sabia se alguma vez iria publicá-la, mas era uma história adulta, ambiciosa, sexual, violenta e não via mais ninguém a escrevê-la. Por isso, limitei-me a escrever sobre um mundo sobre o qual queria ler. Passaram-se vários anos até conseguir publicar a história, porque acho que estava um pouco à frente do meu tempo. Não havia nada semelhante na altura.

Acreditava que podia viver da escrita?

Temos sempre esperança que sim, mas nunca esperamos que isso aconteça. Nessa altura só queria que o meu primeiro romance fosse publicado, mas claro que sempre sonhei conseguir viver apenas da escrita. Tinha dois amigos que escreviam ficção científica – conhecemo-nos numa convenção alguns anos antes – e costumávamos encontrar-nos e lamentar-nos juntos, porque todos estávamos a tentar publicar os nossos primeiros romances e esperávamos que alguém os aceitasse. O mais engraçado foi que, no espaço de seis meses, todos fomos aceites. Estávamos a torcer uns pelos outros e ainda estamos. Continuamos amigos 20 anos depois.

Como disse, começou por escrever contos. Quem admirava mais nessa altura, em termos de escrita?

Edgar Allan Poe, Rod Sterling [criador de The Twilight Zone]… Lembro-me que, quando era miúda, ia à biblioteca e o que fazia era ler tudo o que fosse assustador. Havia o Alfred Hitchcock, a Agatha Christie, o Henry James… E eventualmente descobri a Jane Austen, que falava de romance e da sociedade. Se começares a misturar Jane Austen, Rod Sterling e Edgar Allan Poe, eventualmente chegas onde o meu cérebro está [risos].

Harry Potter, adorei. O Senhor dos Anéis, adorei. De Crepúsculo é que não gostei muito…

 

Tenta manter-se a par dos grandes fenómenos em termos de fantasia? Por exemplo, nos últimos 20 anos, Harry Potter, O Senhor dos Anéis, Crepúsculo

Nem sempre, porque é cada vez mais estreito o leque de livros que posso ler enquanto estou a escrever. Leio muitos mistérios quando estou a preparar um livro, mas quando comecei, de facto, a escrever Os Outros tive de esquecer toda a fantasia urbana que estava de lado à espera de ser lida. Não queria que o trabalho de outra pessoa influenciasse o meu. Não queria, inadvertidamente, usar uma frase de alguém. Agora já posso voltar a eles.

Mas, em relação a Harry Potter, adorei. O Senhor dos Anéis, adorei. Li-os num daqueles períodos em que precisei de descansar e de deixar as coisas assentar. De Crepúsculo é que não gostei muito…

Demasiado pop?

Se tivesse 11 anos quando li esse livro, teria gostado muito. Mas enquanto escritora tendo a ser mais exigente e essa não foi uma história que me cativasse muito.

Quando lê livros como esses, lê-os enquanto leitora ou enquanto escritora com um olhar mais crítico?

Geralmente começo como leitora, porque quero lê-los para me divertir. Mas ultimamente tenho reparado que costumo colocar um livro de lado porque simplesmente não me diz nada. Antigamente, costumava acabar os livros independentemente disso, mas nesta fase penso: “Não gosto muito destas personagens, não quero passar tempo com elas.” Acabo por ser um pouco mais crítica, mas também porque tenho o tempo limitado para ler por diversão.

Se ao fim de 100 páginas continuar a pousar um livro e a pensar noutra coisa, então está na hora de o doar à minha biblioteca local, porque sei que outra pessoa vai gostar de lê-lo. Pelo, contrário, se encontro algo muito bom numa história que estou a ler, tiro tempo para pensar no que o escritor fez para que isso acontecesse. Tento perceber o que está na origem daquela faísca que senti.

Consigo perdoar um enredo que não é tão bom se gostar muito das personagens. Porque se gostar de uma personagem quero ir numa viagem com ela.
 

O que faz um bom livro, na sua opinião?

Depende do que estivermos à procura nesse livro em particular. Na maioria das vezes, consigo perdoar um enredo que não é tão bom se gostar muito das personagens. Porque se gostar de uma personagem quero ir numa viagem com ela. Mas, por exemplo, nos thrillers e nos livros cheios de ação, armas e perseguições de carros, é exatamente por isso que os estamos a ler. Podemos perdoar personagens com pouca profundidade, porque queremos é pessoas que consigam perseguir os vilões e conduzir carros rápidos. Por isso, depende. Mas, na maioria das vezes, a primeira coisa que me atrai ou me afasta são as personagens. O facto de querer ou não passar tempo com elas.

Qual foi o último livro que leu?

Acabei de ler um cozy mystery chamado A Skeleton in the Family, de Leigh Perry. É muito divertido e a heroína é interessante. Basicamente, é sobre uma mulher que ajuda o esqueleto de uma outra família a resolver o seu próprio assassinato [risos].

E trouxe outro livro comigo nesta viagem, embora provavelmente não consiga pegar nele até entrar no avião, que se chama First Impressions, de Charlie Lovett. Fala-nos de Jane Austen e de um grupo que tenta resolver uma série de mistérios relacionados com os livros dela.

Tem uma rotina de escrita?

Tenho. Escrevo cinco dias por semana. Normalmente levanto-me de manhã, tomo o pequeno-almoço e ponho a passar no DVD alguma série britânica de mistério. Isso põe o meu cérebro a funcionar e não interfere com a minha história. Sei que estou acordada e pronta para trabalhar quando começo a olhar para o computador – consigo vê-lo do sítio onde tomo o pequeno-almoço – e lhe presto mais atenção do que ao DVD. Aí estou pronta para escrever.

Depois escrevo 1500 palavras por dia, portanto 7500 por semana. Às vezes demoro três horas, outras vezes cinco, mas fico sempre a trabalhar até ter as 1500 palavras por dia. Depois faço um intervalo, como qualquer coisa, vejo o e-mail, faço alguma coisa que os meus editores queiram e às 17h00 desligo tudo. É tempo para mim.

Nunca tens a certeza de que és realmente bom escritor. É difícil lidar com esse ego frágil que nunca te deixa acreditar plenamente que tens valor.
 

O que faz com o seu tempo?

Durante o verão, faço jardinagem. Não sou muito boa jardineira, mas gosto de estar lá fora a trabalhar. Faço também uma aula de ioga, visito amigos, vejo filmes, leio… E tenho dois periquitos, portanto também passo tempo com eles.

Qual é a pior parte de ser escritor?

Nunca tens a certeza de que és realmente bom. Estás sempre a pensar se tens a capacidade de contar a história que queres contar. Nunca tens a certeza de que estás a fazê-lo bem até o livro ser publicado. É difícil lidar com esse ego frágil que nunca te deixa acreditar plenamente que tens valor. Às vezes ligo aos meus amigos para falar sobre isso e eles dizem-me: “Pff! Esquece isso!”

Então que conselhos daria a jovens aspirantes a escritor?

Escrevam as histórias que vos apaixonam. Muitas vezes, as pessoas começam por pensar nos mercados e naquilo que vai vender, mas na altura em que o livro sair os editores já compraram esse tema e não o querem mais.

Não se preocupem com o que está lá fora. Escrevam as histórias que precisam de escrever, aquelas que vos intrigam o suficiente para vos fazer trabalhar arduamente na construção de um mundo e das personagens. E tenham noção de que as vossas primeiras histórias vão ser más. Essa é a verdade. Mas têm de escrevê-las para aprender como escrever.

Eventualmente, se tentarem ser melhores em cada história, vão ser melhores escritores. E se tiverem sorte nunca escreverão a vossa melhor história, porque tentarão sempre ser melhores.

Que título daria a um livro sobre a sua vida?

Oh Dear [risos]. É isto mesmo.

Publicado em 6 Novembro 2017

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