As Gémeas - Crítica em Menina dos Policiais

As Gémeas é o livro de estreia da autora Saskia Sarginson. Uma obra que não me cativou por completo, confesso, no entanto manteve-me na expectativa até ao final.

A impressão inicial, ao visualizar a capa, é que esta poderia corresponder a um romance. Aliás, perguntaram-me justamente no GoodReads se eu tinha enveredado por um livro desse género, ao qual enviei o link da editora, onde As Gémeas se encontra catalogado como um policial/thriller. No entanto, numa breve pesquisa no GoodReads, denotei que esta capa é usada noutros países, pelo que, se a capa induz a erro, não é responsabilidade da editora.
 
Normalmente aprecio a estrutura da narrativa emflashbacks, todavia, a forma como Sarginson o faz acaba por ser um pouco confusa. Não há indicações temporais imediatas sobre as analepses e o leitor não tem como, à primeira vista, distinguir as acções passadas das temporais. Faz-me crer que se tratam de recordações cronologicamente aleatórias e muitas delas, actos corriqueiros de crianças e em que nada contribuem para a história. Portanto, o ritmo é algo moroso ainda que o livro contenha um reduzido número de páginas. 
Ainda assim, percebe-se que a trama antecipa algo de muito grave que originou a separação das irmãs e tornou duas crianças tão puras em adultas complexas. E consoante este ponto de vista, creio que não senti grande empatia com as gémeas, a não ser quando estas eram crianças.
 
Um dos grandes mistérios é curiosamente a razão do afastamento de Viola e Isolte sendo que a relação entre irmãos gémeos consta ser de grande intimidade.
Não deixo, no entanto, de congratular a autora pelas descrições tão realistas das atitudes e carácteres das protagonistas. O leitor é privilegiado em conhecer a infância das personagens e depara-se com aspectos usuais de uma família disfuncional, bem como o cenário: o ambiente hippie dos anos 70, onde os valores morais diferem dos actuais, assentando muito em relações promiscuas.
 
Uma das problemáticas explanadas na história é o distúrbio alimentar. Quase que é palpável o sofrimento daqueles que deixam de comer a fim de emagrecer. A personagem que padece de anorexia é Viola, uma das gémeas, e em torno deste distúrbio alimentar, há mazelas psicológicas e até sociais que a autora tem em conta e que contribuem para o estado actual da personagem. O leitor é quase como incumbido a sentir pena da personagem, de forma espontânea. Exceptuando esta percepção, não me consegui ligar às duas irmãs, que passam por inúmeras provações ao longo da história. Portanto este livro encontra-se num registo dramático, secundarizando a componente thriller.

O clímax deixa em aberto uma das questões que se constituiu um mistério. Por norma, quando isto acontece, gosto de idealizar as potenciais resoluções. A autora fá-lo com intenção e a edição portuguesa apresenta um aspecto muito curioso: através da inclusão de uma entrevista no final do livro é-nos desmistificado o porquê desta opção.
 
Em suma, gostei do livro embora esperasse algo diferente, de natureza mais aterradora, talvez. Mas sim, é um livro extremamente intenso pela natureza dos acontecimentos, debruçando-se sobre relações humanas e envolvendo problemáticas do foro psicológico. Creio que esta é uma boa história mas pessoalmente não a teria escrito desta forma, dispondo de analepses tão ambíguas e temporalmente algo indefinidas. Em suma, ainda que não me tenha cativado por completo, reconheço que foi uma boa leitura de entretenimento.
Publicado em 27 Junho 2014

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