As perguntas parvas também merecem resposta - Crítica a "E Se...?"



As perguntas parvas também merecem resposta

Se alguma vez formulou perguntas como “Quão perto teria de estar de uma supernova para obter uma dose letal de radiação neutrino?” ou “Se de repente começarmos a levantarmo-nos do chão cerca de 30 cm por segundo, como poderíamos morrer?” então este livro é para si.

Munroe calcula a percentagem de propulsão-peso de uma AK-47 porque ele quer saber se estas armas de fogo poderiam ser usadas como um jetpack. E os resultados? “Com metralhadoras suficientes conseguirias voar.” Calcula também a velocidade de uma bola de basebol a 90% da velocidade da luz para imaginar os seus efeitos destrutivos. Resposta: devido à “fusão constante defronte da bola, tudo o que se encontrasse a um quilómetro e meio do parque ficaria dizimado.”

Origens e paradeiro de Randall Munroe

Munroe formou-se em engenharia robótica em Cambridge e trabalhou na NASA para depois se dedicar por inteiro ao cartoon popular do seu website XKCD. (Introvertido e pouco à-vontade com câmaras, é tão difícil de detetar no mundo real como uma partícula quark.) XKCD é o lar da sua webcomic e do seu cantinho “E se…?”, assim como as inovações gráficas como a monstruosa BD “Click and Drag” (que possui cerca de 15m se a imprimíssemos) e o filme “Time” com episódios de uma frame por hora, que lhe granjeou o Hugo Award em 2014 para melhor graphic story.

Da lógica para a imaginação

Desde 2012 que imensas pessoas recorrem à plataforma “E se…?” buscando uma resposta científica que valide a imaginação de cada um. Munroe seleciona os mais desafiantes ou intrigantes em cada semana e publica as suas conclusões matemáticas no website, intercaladas com os seus bonecos simples mas cativantes e referências à cultura popular como Senhor dos Anéis, o jogo RPG Dungeons & Dragons e Gremlins.

E se…? é portanto uma compilação destas perguntas e respostas, em que cerca de metade são novidade, e as outras, mais populares e criativas, foram desenvolvidas e expandidas.

Em nome da verdade, nem todas as divagações de Munroe implicam fins e efeitos aterradores, nojentos ou apocalíticos como relâmpagos, oceanos sem água e explosões brutais. Outras respostas contemplam a diversão e palermice pura e dura, como saber qual a probabilidade de fazer uma réplica da cena do filme 300 na qual milhares de flechas tapam o sol, ou como construir uma ponte de peças de Lego® de Nova Iorque a Londres. Aqui haveria um problema: “As peças de Lego® não são vedadas à prova de água quando as encaixas.”

É uma questão de rigor

É divertido observar Munroe a considerar e examinar cada questão com todo o cuidado, ponderando todas as possíveis e impossíveis implicações com aprumo metódico e matemático, os seus esboços característicos providenciando humor e perspicácia como parte do raciocínio. Na verdade, E se…?, agradavelmente louco, é a maior diversão que poderás ter com matemática e ciência enquanto nos tornamos secretamente génios maldosos e divertidos.

Enigmas escondidos

As perguntas mais perturbadoras, como “É possível chorar tanto ao ponto de nos desidratarmos?”, estão agrupadas num conjunto intitulado “Bizarras (e preocupantes) perguntas da caixa de correio do E se…?”. Estas não chegam nunca a obter resposta, tirando a já mencionada que é acompanhada de um bonequinho cartoon a perguntar “… Karl… está tudo bem?”.

Um mundo novo à nossa espera

De modo a equilibrar cada cálculo da força telecinética do mestre Yoda (que são cerca de 19,2 quilowatts, aliás) ou o pior cenário de um cataclismo astrofísico, Munroe explora ainda outros devaneios entusiasmantes como as probabilidades de encontrar a alma gémea, ou se o Facebook terá futuramente mais perfis de pessoas já falecidas do que as que se encontram ainda vivas. Quando prevê os efeitos da magnitude de um sismo de -7 na escala de Richter – “uma simples pena a pousar no chão” – sentimos a perspetiva do mundo de Munroe, divertida e brincalhona, mas verdadeira e desafiante, que nos oferece novos pontos de vista através dos números, equações e lógica inesperadamente surpreendentes e emocionantes. É, no fundo, dificílimo resistir a um livro como este.

Publicado em 23 Fevereiro 2015

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