As Primeiras Quinze Vidas de Harry August - Opinião no blogue Uma Biblioteca em Construção

Há livros que nos fazem pensar sobre certas ideias de uma forma completamente diferente. Sempre me interroguei sobre o que faria se pudesse voltar a viver esta mesma vida tendo o conhecimento adquirido até ao momento da regressão. As Primeiras Quinze Vidas de Harry August pega neste conceito e revelou-me hipóteses que ainda não tinha colocado. Ao mesmo tempo, apresentou-me uma história intrigante, com um desenvolvimento envolvente e um final que me deixou muito satisfeita.

O protagonista não me agradou imediatamente, mas a sua história acabou por me cativar aos poucos e poucos. Gostei da sua evolução e da forma como ele encarou esta condição excecional. É curioso que a primeira vida tenha sido tão diferente de todas as outras. Fez-me pensar se terá sido assim devido ao conhecimento mais limitado que tinha ou se nós realmente temos maior tendência de nos agarrarmos ao que nos é confortável e não somos capazes de arriscar mais ou desenvolver as nossas capacidades. As catorze vidas que se seguem e que nos são apresentadas são distintas e umas chamam mais a atenção do que outras, como seria de esperar.

Numa primeira fase, a autora mostra como este homem encara esta capacidade que o difere da grande maioria da população. Depois, insere-o dentro de um pequeno grupo e fá-lo sentir-se menos sozinho. Só depois surge, ainda que de forma lenta, a parte da trama que funciona como motor para algo maior e mais emocionante. Neste momento, fui levada a interrogar-me sobre o futuro e sobre como certas decisões e ações o podem mudar por completo. Aqui a história ganha maior força, primeiro porque quis ver até onde a autora vai, depois porque fiquei impressionada com o plano que começou a ser colocado em prática.

O início da leitura não é propriamente simples, afinal a habituação aos saltos entre vidas pode não ser fácil, mas, com o desenrolar da narrativa, isto torna-se mais natural para o leitor. Também existem momentos longos de reflexão e de descrições, o que tanto pode gerar interesse como até algum aborrecimento, dependendo do tema abordado no momento. Porém, já na parte final, a leitura torna-se mais compulsiva, até que se chega a um final que, apesar de já ter sido adivinhado, não deixa de ser forte e trazer um sorriso aos lábios.

Terminada a leitura, cheguei à conclusão que, afinal, não gostava de ter esta capacidade de Harry August. Viver no mesmo espaço temporal vezes sem conta, não ser capaz de deter crimes e atrocidades, ver pessoas que amámos noutras vidas a tornarem-se completos estranhos e perceber que os nossos esforços são de pouco valor tornam esta existência prolongada quase como prisão sufocante. E a autora tenta mostrar isso mesmo ao levar muitas das suas personagens a optarem pelo Esquecimento.

As Primeiras Quinze Vidas de Harry August é um livro diferente de tudo o que li até aqui, que aborda de forma excecional um conceito muito interessante. Ao mesmo tempo, faz-nos pensar sobre diferentes temas inerentes à vida e ainda sobre o que estamos a fazer com a nossa própria existência, tendo em conta que não sabemos quando ela vai terminar. Uma leitura que recomendo.

Publicado em 2 Novembro 2016

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