As Primeiras Quinze Vidas de Harry August por "As Leituras do Corvo"

Harry August não é como as outras pessoas. Nasce, vive, morre... e volta a nascer como a mesma pessoa, no mesmo sítio e na mesma época. E não é o único. Há, aliás, uma sociedade na qual se movem os que são como ele, acumulando sabedoria ao longo de várias vidas e vivendo, da melhor forma possível, sem interferir com o rumo natural dos acontecimentos. Mas algo mudou. Uma mensagem vinda do futuro indica que o mundo está a acabar. Harry tem as suas suspeitas quanto ao responsável, pois julga tê-lo conhecido de perto. Mas partir em busca de respostas, consegui-las e, principalmente, impedir o cataclismo, não é coisa que se consiga fazer numa única vida. Principalmente, com um inimigo tão poderoso como o seu.
Viagens no tempo... Não é propriamente um tema novo, pois não? Mas e se fosse possível seguir por um caminho completamente diferente? Difícil... mas promissor. E, porém, é exactamente isso que Claire North faz neste As Primeiras Quinze Vidas de Harry August - constrói uma nova abordagem a uma temática conhecida, com resultados impressionantes em todos os aspectos. Intenso, cativante, surpreendente - e comovente, até! - tudo neste livro atinge um equilíbrio perfeito. E a soma de tudo isto nunca poderia ser menos do que memorável.
Ora, tendo isto como ponto de partida, escusado será dizer que tudo é bom. Há, ainda assim, alguns aspectos que, pelo impacto que têm na leitura, importa destacar. E o primeiro é, desde logo, a escrita. É pela voz do seu protagonista que a autora conta a história e, enquanto narrador, Harry August é brilhante. Conduz-nos pelas suas memórias, dando a entender possibilidades que ora confirma, ora descarta, criando assim grandes surpresas e um maior impacto nas pequenas revelações. Parece ter uma memória perfeita, mas isso não significa que partilhe tudo de forma imediata. E o resultado é uma narrativa sempre cativante, mesmo nos momentos mais descritivos.
Mas não é só como narrador que Harry é brilhante. Enquanto protagonista, é o tipo de personagem que facilmente desperta empatia, abrindo caminho a partir daí para um leque mais vasto de emoções. Cativa pela história da infância, pelas diferentes relações vividas nas suas várias vidas, pelos momentos difíceis que atravessa, em relação com o seu inimigo, mas não só. Surpreende pela forma como vive as coisas, mas, mais do que isso, pelo carácter subjacente a essa forma de viver. Tudo em Harry é fascinante e memorável. E isso basta para querer sempre saber mais sobre a sua história.
E quanto à história... bem, essa é toda ela um poço de boas surpresas. Intensa, intrigante, cheia de momentos marcantes e com um equilíbrio perfeito entre as suas múltiplas facetas, cativa tanto pelas grandes revelações como pelos pequenos momentos. É como um longo caminho em que tudo ganhasse vida, gravando-se nas memórias de quem a segue com a mesma nitidez com que se traça na mente do protagonista. Tudo é relevante, mesmo as mais pequenas coisas. E a forma como tudo se equilibra - intriga, contexto, acção, emoção - é simplesmente brilhante. 
Que mais dizer, então, sobre este livro? Que vale a pena, da primeira à última página. Que é tão capaz de intrigar como de fazer sorrir como de levar às lágrimas. E que tem tudo aquilo de que um bom livro precisa - uma boa história, personagens fortes, um enredo em que há, de facto, heróis e vilões, mas em que a linha entre o bem e o mal não é assim tão precisa - em todas as medidas certas. Vale a pena? É claro que vale a pena. E é um livro para lembrar por muito tempo. Maravilhoso.
Publicado em 20 Dezembro 2016

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