d.r.
Entre 1993 e 1997 a ITV brindou as suas audiências com as peripécias saídas da obra de Cornwell e transpostas com êxito para o ecrã doméstico. Entre outras curiosidades, a série foi filmada em diversos locais, entre os quais o nosso; Portugal e Espanha foram palco de algumas filmagens, sendo que a maioria teve lugar na Crimeia e na Turquia. Independentemente da geografia, o que importa aqui salientar é a qualidade da produção britânica e o talento de contador de histórias evidenciado pelo autor. Os romances do bravo soldado Sharpe leem-se de um fôlego e sem grande esforço, ao mesmo tempo que dão a conhecer, sem hermética presunção académica, um dos períodos mais interessantes da História política e militar da humanidade.
Para os que gostam – e são, misteriosamente, muitos – de ver o nome de Portugal na literatura estrangeira, a boa notícia é que a pátria nossa surge em vários romances da série “Sharpe”: Porto, Almeida ou a Batalha do Buçaco são alguns exemplos onde o cenário lusitano emerge, normalmente associado a vitórias aliadas (luso-britânicas) sobre o exército francês.
Batalhas, mistério, espionagem, traições e romance compõem as histórias que acompanham a evolução pessoal e militar da personagem, bem como os eventos internos e externos que contribuem para lhe dar forma, estrutura e credibilidade. É, se quisermos, uma fórmula antiga numa escrita “à antiga”, sendo que aqui o adjetivo serve para valorizar e não para menosprezar a prosa do senhor Cornwell, a mesma que fez surgir a personagem no início dos anos 80 do século XX e que conseguiu perpetuá lo até 2007...
Já em 2015 surgiu, sob chancela da BBC, a série “The Last Kingdom”. Oito episódios chegaram para seduzir o público britânico e norte-americano, pelo que, sempre atenta ao “trending” das audiências, a Netflix se mostrou e se chegou à frente para produzir, em 2017, nova série de oito episódios inspirados nas “The Saxon Stories” de Bernard Cornwell – uma dezena de títulos editados entre 2004 e 2016, prova inequívoca da capacidade de escrita deste londrino mudado para os States por força do casamento com uma nativa norte-americana.
Por razões que a própria razão desconhece, a ficção histórica vai conquistando adeptos em Portugal, pelo menos a julgar pela profusa e difusa oferta do género na imensa montra de escaparates. Pena é que, boa parte das propostas se centrem em intrigas palacianas (ou mexericos palacianos), histórias de amor, curiosidades de resposta duvidosa, imprecisões factuais, divagações sem nexo e narrativas pouco ou nada estimulantes.
Creio por isso que a leitura de Bernard Cornwell, entre nós divulgada pela Saída de Emergência, me parece ser digna de atenção para o leitor que seja um jovem adulto até ao leitor que é um adulto que já foi jovem. Entretenimento, ação, romantismo e empolgantes descrições da vida pública e militar do século XIX são motivos de sobra a justificar um olhar sobre a figura de Sharpe, seja ele impresso ou televisionado, tendo sempre em conta a figura do cavalheiro que lhe deu voz e das múltiplas vozes que deu a conhecer: Bernard Cornwell. E para os mais interessados ou curiosos sugiro vivamente uma espreitadela à página do autor, não no Facebook mas no agradável sítio que construiu na net. Sugere-me, curiosamente, o título de um filme... histórico: “A Man for all Seasons”.