Cátia Antunes no Notícias ao Minuto

"É preciso valorizar os sintomas e não tentar passá-los com medicamentos"

Cátia Antunes olha para a naturopatia como o novo paradigma da saúde. O objetivo passa por dar mais saúde e por parar de disfarçar sintomas. Como é que isso é possível? Dando ouvidos ao corpo. O Lifestyle ao Minuto esteve à conversa com a autora sobre a importância do tratamento natural.


Tomamos medicamentos a mais porque somos habituados a isso desde pequenos. E ao primeiro sinal atacamos. Quem fica a perder é a saúde, assim como o controlo que podemos ter do nosso corpo. O alerta parte da naturopata Cátia Antunes, que defende a importância de uma maior aposta na terapia natural.

O seu recente livro 365 dias com saúde – o seu guia de saúde para toda a família’ (editora Chá das Cinco) vem destacar isso mesmo e ainda salientar a necessidade de voltarmos aos hábitos antigos, aqueles que faziam dos alimentos da época as principais e melhores fontes de nutrientes.

A naturopatia pode ser “o novo paradigma da saúde”, mas para tal é preciso que as pessoas passem a ouvir o próprio corpo.

O Lifestyle ao Minuto esteve à conversa com a especialista.

Começa o seu livro a olhar para a naturopatia como o novo paradigma para a saúde. Fale-me um pouco desta terapêutica e da importância do tratamento natural.

O que eu sugiro é que todos nós, de uma forma geral, usemos a naturopatia quer para prevenção quer para tratamento e o novo paradigma é justamente inverter as premissas nas quais a saúde assenta. Na verdade, quando adoecemos, a primeira tentativa que fazemos é a dos químicos de síntese e isso tem de ser alterado, na medida em que os medicamentos químicos de síntese são aqueles que nos levam a efeitos secundários. Portanto, quando falo em mudar de paradigma é olharmos para a medicina natural, ou seja, para o recurso à alimentação, para o recurso às plantas medicinais ou à medicação homeopática como a primeira prevenção e não só quando todo o resto já não funciona.

Então acredita que é possível ter-se mais saúde quando se tomam menos medicamentos?

Com toda a certeza. Todos os medicamentos são tóxicos, todos têm toxicidade no fígado, no mínimo, fora uma série de outros possíveis efeitos secundários. Mas mesmo que o doente não tenha efeitos secundários, a toxicidade para o organismo vai ter sempre. Portanto, a primeira opção deverá ser aquela que não agride o organismo, aliás, o pai da Medicina, Hipócrates, diz ‘primeiramente não prejudicar’, e é isso que nós devemos fazer, optar por soluções que não levem o corpo a outros medicamentos, porque muitas vezes as pessoas tomam medicamentos e depois outros medicamentos para contrariar os efeitos secundários daqueles. Então isso acaba por ter um efeito bola de neve e tudo isto cada vez mais a somar no fígado. É uma incoerência desgraçada, porque nós precisamos de ter o corpo com saúde para tratar uma doença e os medicamentos tratam os sintomas, mas não dão saúde ao corpo.

Uma das formas de prevenir seria a aposta nos alimentos da época, mas com a chegada das grandes superfícies comerciais e com a facilidade de transporte que se verifica nos dias de hoje, perdeu-se muito o hábito. Em que medida isso afeta a saúde?

Quando vamos comer alimentos que não são da época, em primeiro lugar, os alimentos não têm a carga de nutrientes que deveriam ter porque são criados em estufa e não nos vão nutrir da mesma forma que um alimento daquela época, daquela estação do ano. Este é o primeiro ponto, o segundo ponto é o facto de que a natureza dá-nos os alimentos de que nós precisamos para contrariarmos a tendência das doenças daquela época.

 

Todos os medicamentos são tóxicos, todos têm toxicidade no fígado, no mínimo, fora uma série de outros possíveis efeitos secundários

 

No verão, temos mais a melancia, a meloa, o melão, são frutas com mais água, como transpiramos mais precisamos nos hidratar mais.

No inverno temos de nos concentrar mais nos frutos secos, que têm mais ómega 3 e nós precisamos de mais ómega 3 para nutrir a nossa pele, que fica mais seca com o frio e assim por diante. Cada estação do ano vai-nos dando os alimentos de que precisamos, atendendo às transformações da natureza e essas mesmas fazem-se ocorrer no nosso organismo.

Repetem-se os alertas sobre a importância de se ter uma boa alimentação e um estilo de vida ativo, mas mesmo assim as pessoas continuam a comer alimentos processados, a serem sedentárias e a colocarem a saúde em risco. Porque é que isso acontece e porque é que é difícil fazer a chegar a mensagem à pessoa?

É difícil porque esta forma de estar na vida menos saudável está muito enraizada e as pessoas vivem uma vida frenética. Eu acho que esta sociedade capitalista nos leva um bocadinho a isto. As pessoas trabalham imenso, trabalham imensas horas, já não vão ter tanto tempo para fazer exercício físico, já não vão ter tanto tempo para repensar as suas despensas, porque a mudança dá trabalho, para mudarmos temos de dedicar algum tempo a essa mudança, não dá nenhum trabalho hérculeo, consegue-se, mas a pessoa tem de estar motivada, ter alguma orientação de um naturopata, de um livro, de um programa de televisão.

 

Podemos dizer que o açúcar alimenta o cancro e isso é claro e inequívoco

 

Mas acho que estamos perante um ponto de viragem, há cada vez mais pessoas doentes, a população vai olhando para o lado, o vizinho do lado tem cancro, um tem isto, outro tem aquilo, aquela criança está sempre doente e a faltar à escola… então, muito pela via da doença, as pessoas têm vindo a modificar os hábitos.

Qual é o verdadeiro impacto do açúcar na saúde e como é que as pessoas podem substituí-lo?

O açúcar é uma grande chatice, porque é viciante e já condicionou as nossas papilas gustativas e isto acontece desde pequeninos, porque as papas Cerelac, por exemplo, estão carregadas de açúcar, as bolachas estão carregadas de açúcar, os lanchinhos que os meninos levam para a escola também, os leites com chocolates, quer dizer, tudo tem açúcar, então as nossas papilas gustativas têm a sua marca de açúcar muito lá em cima e qualquer coisa menos doce é já amargo. Isto exige hábitos, é uma questão mesmo de hábitos.

O grande impacto do açúcar na nossa saúde é que tem realmente muitos efeitos secundários. Por um lado, acidifica muito o nosso pH, e nós precisamos de ter um pH mais alcalino dentro das células para termos mais saúde, depois é um esforço gigante para o pâncreas, que tem de produzir muita insulina para fazer face àquela glicose e isso leva-nos ao envelhecimento.

Depois, as células cancerígenas têm muitos recetores para a glicose, ao contrário das células não cancerígenas. Podemos dizer que o açúcar alimenta o cancro e isso é claro e inequívoco. E para além da obesidade e do excesso de peso, que leva a outras coisas.

Substituir passa mesmo para reeducação das papilas, por fazer o esforço para consegui-lo e depois há outras coisas que são doces de sabor e que têm nutrientes. O mel, por exemplo, que é uma opção em alternativa ao açúcar branco, mas não se deve comer quantidades muito grandes, as tâmaras, as frutas mais adocicadas, de acordo com a época.

A falta de tempo dos pais faz com que os lanches dos filhos sejam rápidos, recorrendo a alimentos processados como as bolachas e os bolos. Não estará a faltar uma área ligada à nutrição no ensino?

Muito, é flagrante. É flagrante a alimentação que as escolas dão às crianças e o mais flagrante não é tanto ao nível das refeições principais, é muito mais ao nível dos lanches, dos snacks que dão. Porque é que isto continua a acontecer. Acho que tem a ver mesmo com as instituições, é difícil mudar as instituições grandes, é mudar mudar mentalidades também. Mas a falta de tempo é também uma forte questão, porque é que nós, em vez de termos só bolachas com farinha e açúcar, não temos aquelas bolachas com farinha de arroz, de quinoa, de trigo-sarraceno, que não têm açúcar nenhum e têm farinhas mais interessantes.

 

O grande culpado disto é o Estado, porque o Estado devia fazer essa máquina mexer, a da educação das pessoas quanto à alimentação

 

É uma questão de no fim de semana cozermos uns ovinhos de codorniz ou de galinha e guardarmos, são coisas que não dão trabalho, como cenouras descascadas, frutos secos, tâmaras.

Agora, o que falta mais é informação, porque quando eu recebo estas crianças em consulta com os seus pais, eles já estão abertos à mudança, mas não o fizeram até à data porque não lhes passou pela cabeça isto.

O grande culpado disto é o Estado, porque o Estado devia fazer essa máquina mexer, a da educação das pessoas quanto à alimentação.

É preciso acabar com o mito de que a alimentação saudável é mais cara e trabalhosa?

A alimentação saudável é um bocadinho mais cara, mas a doença é mais cara, porque um pai deixa de ir trabalhar para estar com a criança em casa, ou tem de pagar a uma ama para que fique com o filho. A doença sai mais cara, mas sim, é um mito, porque se nós deixarmos de comprar os refrigerantes acabamos por compensar o orçamento.

O livro que acaba de lançar é um guia de saúde para toda a família. É possível ter-se mais saúde ao dar ouvidos às necessidades do corpo em cada estação?

Sim, precisamos de valorizar os sintomas e não de tentar passá-los com os medicamentos. Vamos sendo orientados desde pequeninos, é uma coisa médica natural, para os medicamentos. Se temos uma dor de cabeça, tomamos um analgésico para não sentir dor; se estamos tristes, tomamos uma antidepressivo para tapar a tristeza. Ou seja, não deixamos o corpo falar, se temos uma inflamação, tomamos um anti-inflamatório e por aí adiante e este silenciar do corpo leva a que este um dia se manifeste com uma doença maior, porque não vamos ao centro da questão.

Então o problema está no hábito de disfarçar os sintomas e de não tratar da causa?

Sim, isso mesmo, porque as pessoas não dão ouvidos aos ‘sinaizinhos’ preliminares da doença que se vão manifestando depois ao longo do tempo. Tapam muito mais os sintomas e o corpo depois acaba por manifestar muito mais uma doença muito maior no futuro.

Foca-se muito nas estações do ano. Em qual é que devemos prestar uma maior atenção aos sinais que o corpo dá?

Talvez a primavera e o outono, a mudança do inverno para o tempo mais quente, que se dá na primavera e a passagem para o tempo mais frio. Normalmente, as duas alturas em que o corpo manifesta mais é na primavera e no outono.

No seu livro, termina com as regras para se viver melhor ao longo dos 12 meses do ano, destacando o impacto das preocupações, dos ressentimentos, das zangas, dos julgamentos, da ganância... como é que os nossos pensamentos, e posteriores atitudes, afetam a nossa saúde?

Afetam muito. Eu costumo defender que mais do que comer bem é preciso estar emocionalmente bem. Essa é a questão mais interessante, porque as nossas emoções têm uma ação na nossa imunidade. Se estamos constantemente tristes, descontentes com o casamento, descontentes com o trabalho, ressentidos com uma coisa do passado, não fazemos o perdão às pessoas que devemos perdoar, vamos começar a criar um processo inflamatório. E acontece mesmo porque os nosso níveis de cortisol, por parte das nossas [hormonas] suprarenais, vai acabar por nos inflamar.

 

As pessoas tapam muito mais os sintomas e o corpo depois acaba por manifestar uma doença muito maior no futuro

 

Além disso, o constante estado de insatisfação e tristeza também faz com que as nossas células de imunidade não produzam. Portanto, terreno inflamado, imunidade baixa… já temos aí um ponto de partida para a doença.

Então a naturopatia devia andar mais lado a lado com a Psicologia?
 

O naturopata é isso mesmo, o naturopata toca nessas áreas todas, acaba por trabalhar a saúde emocional e trabalhar a saúde do corpo, porque para a naturopatia a saúde o corpo não está dividido em mente, em alma… para nós, o nosso corpo é um só. Aprendemos ferramentas terapêuticas para lidar com essa unidade que é o organismo.

Publicado em 20 Fevereiro 2017

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