Eleanor & Park - Crítica em Trivialidades Literárias

Ouvi falar muito deste livro por altura do dia dos namorados porque quem o comprasse nessa altura adquiria uma capa personalizada com dois nomes à sua escolha, o que foi uma excelente iniciativa para os livrólicos. Confesso que na data não me cativou muito e não voltei a pensar mais nele, principalmente por não ser o meu género literário de eleição... Até ao início deste mês, onde no blogue Readings Sunshine foi promovida umaleitura conjunta com este mesmo livro, na qual alinhei. E ainda bem que o fiz porque caso contrário era muito provável não o ler e estaria a perder um livro lindo, fofo e nostálgico, que me levou de volta à minha infância. 

Uma das coisas de que gostei imediatamente quando iniciei a sua leitura, foi o facto de os acontecimentos serem sempre apresentados na perspectiva de ambos, o que é fantástico, pois ficamos a "conhecê-los" bem e a perceber a sua maneira de pensar, o que em certas situações faz falta para não sermos induzidos em erro. 

Também me cativou bastante a época em que se desenrola a acção (80's), algo que me transportou de volta à minha infância. Afinal, quem é que dessa geração não se deparou com os walkmans e com o facto de ter de poupar as pilhas ao máximo? E com as cassetes que eram gravadas e regravadas? E onde nos primeiros namoros o simples dar a mão já era algo de transcendente? E a dificuldade de fazer telefonemas sem ter ninguém por perto? Entre outros pormenores que evocam a nostalgia. 

Eleanor é uma jovem de 16 anos, nova na cidade, que tem uma vida familiar instável, quer a nível financeiro como emocional. Vive com a mãe, os irmãos e o padrasto que instala um sentimento profundo de medo em casa. Como tem problemas económicos, veste-se com roupas "recicladas", geralmente de homem, o que lhe confere uma aparência estranha e que só serve para exaltar as suas diferenças com os demais jovens da sua idade, tais como o facto de ser roliça e de ter o cabelo ruivo e rebelde. Tudo isto contribui para chamar a atenção de forma negativa, tornando-a vítima de bullying.

Park é o oposto de Eleanor. Embora seja semi coreano, e não seja propriamente popular, é respeitado e tenta sempre passar despercebido e tornar-se invisível. Tem uma boa família, estruturada, com um bom ambiente emocional e financeiro. 

Esta oposição entre ambos é claramente demonstrada no seguinte excerto, proferido por Eleanor a Park:

"- Pára de perguntar isso - disse ela, zangada. Tu perguntas sempre isso. Porquê. Como se houvesse resposta para tudo. Nem toda a gente tem a tua vida, sabes, nem a tua família. Na tua vida, as coisas acontecem por uma razão. As pessoas fazem sentido. Mas a minha vida não é assim. Ninguém na minha vida faz sentido..." 

O acaso decide juntá-los, tendo tudo começado no autocarro escolar onde, contrariado, Park deixa Eleanor sentar-se a seu lado. A pouco e pouco nasce uma forte amizade entre ambos, onde Park partilha com Eleanor os seus livros de BD e as suas músicas, o que transforma gradualmente a amizade em amor.

E todo este processo é de uma fofura extrema, é terno, é querido, encantador... Simplesmente prende-nos e queremos mais e mais. E é também cómico. Dei por mim inúmeras vezes a rir-me com certas passagens do livro, como por exemplo esta em que Eleanor está a falar de Tina a Park, a rapariga popular da escola e que lhe faz a vida complicada:

"- Estás a gozar? A Tina é um monstro. Ela é o que resultaria se o diabo se casasse com a bruxa má e panassem o bebé numa tigela de maldade ralada."

No entanto, apesar disto, é um livro que também nos alerta para temáticas menos encantadoras, tais como a violência doméstica, o bullying e a negligência parental. 

Quanto ao final, o famoso final, já desconfiava dele devido ao início do livro, e foi algo que mexeu verdadeiramente comigo. Passei por várias fases desde a negação - isto tem de continuar, de certeza que o meu livro está incompleto, passando pela revolta -afinal acabou... mas não pode acabar assim, nãaaaaoooo, pela irritação - não acredito que ela fez isto, como? como?, até à aceitação - afinal acabou mesmo, snif snif, que deu origem à esperança - se calhar vai haver uma continuação... TEM DE continuar. 

E com este livro senti-me exactamente como a Hazel Grace, do livro A culpa é das Estrelas, se sentiu ao terminar de ler Uma Aflição Imperial, tal como escrevi na opinião anterior, aquele sentimento de falta algo aqui, quero saber mais.

E foi todo este misto de sentimentos que não me permitiu escrever logo uma opinião. Tive que acalmar primeiro para poder escrever de cabeça fria.

E sim, este é um livro que vale as 5 estrelas (4,5 só mesmo por causa do final).

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Publicado em 29 Abril 2015

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