Isabel, A Condessa Cercada - Crítica em As Leituras do Corvo

Acabado de chegar a Arzila para substituir o seu pai na capitania do forte, o Conde de Redondo descobre-se perante uma teia de responsabilidades e acções mais ou menos diplomáticas numa relação que é de (aparente) guerra com os mouros, mas em que as verdadeiras ligações são bastante mais complexas. Consigo, levou os filhos e a esposa, Isabel Henriques, mulher independente e cheia de determinação, cuja vida está também prestes a mudar. Mas também para lá das muralhas se operam mudanças, com a precária paz com os mouros a ser abalada pelo domínio cada vez maior de um ramo mais fundamentalista. E, entre tentativas de paz e confrontos inevitáveis, nasce também um percurso de amores e de desamores, com objectivos mais ou menos nobres, dos quais nenhum sentimento escapará ileso.

Bastante descritivo e, a princípio, um pouco disperso na forma como introduz as diferentes facetas da história, este não é propriamente um livro de leitura compulsiva. Desde o contexto histórico à forma como o enredo vai sendo construído, e sem esquecer os detalhes de um quotidiano diferente e a deliberada ambiguidade no que se refere a alguns aspectos da narrativa, há todo um conjunto de particularidades a assimilar, e isso exige tempo e atenção.

Mas também é verdade que nada disso retira interesse à leitura. Muito pelo contrário. A forma como o autor entrelaça os diferentes fios da narrativa, com personagens de naturezas contraditórias e uma certa aura de mistério causada pelos avanços e recuos no rumo dos acontecimentos, faz com que, uma vez assimiladas as tais peculiaridades, a verdadeira complexidade, tanto de enredo como de personalidades, se revele como uma surpresa. No final, tudo faz sentido, mesmo o que é deixado como mera insinuação ou apresentado de forma mais breve. E fá-lo de uma forma surpreendentemente intensa. Terminada a leitura, não é o ritmo pausado o que fica na memória, mas o impacto do final.

Ainda falando das personagens e das suas aparentes contradições, o que começa por ser estranheza face a um conjunto de relações algo disfuncionais acaba por ser um bom reflexo da complexidade da condição humana. Condição que se reflecte tanto em pensamentos - e a própria mudança de mentalidade dominante entre os mouros é um exemplo disso - como em sentimentos e acções, nem sempre justas e correctas, e muito menos unânimes ante a avaliação dos outros, mas com motivos válidos ante o coração de cada um.

Poder-se-ia dizer, portanto, que este é um livro à imagem das suas personagens, primeiro causando estranheza e exigindo atenção, para depois surpreender pela complexidade do caminho e pela profundidade das emoções. Surpreendente, muito interessante e com um final realmente marcante, é, pois, um livro que fica na memória. Muito bom.
Publicado em 23 Setembro 2014

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