José Brandão escreve sobre o seu último livro A História da Pobreza em Portugal

A pergunta que se impõe: o que o levou a escrever este livro, com este tema tão específico?

Em primeiro lugar, foi o de constatar que não obstante Portugal ser um país em permanente estado de pobreza, existe muito pouca literatura dedicada a abordar este tema numa perspetiva de âmbito geral e abrangendo toda a nossa existência histórica. Não escondo que a situação atual também terá influenciado a escrever este livro, mas nunca pensei que Portugal, com uma História tão rica fosse, afinal, tão pobre no bem-estar da sua população. Quero ainda salientar os meus anteriores 3 livros editados pela Saída de Emergência - A Vida Dramática dos Reis de Portugal, Os Homens do Rei e Este é o Reino de Portugal – que desempenharam um importante contributo para avançar para esta História da Pobreza em Portugal.

 

O facto de a pobreza ser uma constante na nossa sociedade desde que nos conhecemos como Portugal pode levar-nos a encarar o futuro com uma visão pessimista?

Infelizmente sim. Apesar dos discursos dos políticos e dos governantes em especial, Portugal e os Portugueses nunca terão vivido tempos tão tendentes a levar-nos a encarar o futuro com uma visão pessimista. Cada vez mais hipotecado e sem luz ao fundo do túnel os Portugueses estão entregues a manobradores de máquinas partidárias que não se ralam em prometer o Céu quando abrem a boca e desatam a prometer mundos e fundos. Os pobres são o seu alvo preferido. Prometem-lhes tudo e do melhor. Isto, é claro, se forem eleitos com a cruzinha colocada no boletim de voto, como já fazem há quase quatro décadas.

 

De cariz histórico, a obra é uma amostra dos governantes que tivemos ao longo de séculos. Se tivesse de eleger o melhor governante e o pior até hoje, desde que se formou o Condado Portucalense, em quem votaria?

A pergunta é tanto difícil porquanto para eleger o melhor existem muito poucos candidatos. Já no que respeita à escolha do pior existe uma fartura que quase abrange a totalidade dos que mandaram em Portugal. Contudo, sem dúvida D. João II terá sido o melhor e quanto ao pior... Venha o Diabo e escolha...

 

A partir da sua obra, podemos concluir que a pobreza é um mal sem solução à vista, ou seja, mesmo em épocas mais faustosas, a pobreza é um problema insolúvel?

É uma realidade que mesmo nos períodos em que as riquezas vindas do Império Colonial faziam de Portugal uma das nações mais opulentas e endinheiradas da Terra, o Povo nunca saiu da cepa torta e viveu sempre pelas ruas da amargura. Mesmo a nadar em dinheiro Portugal nunca se preocupou suficientemente com a sorte dos que se arrastavam na pobreza e preferia esbanjar fortunas em construções de Conventos, Igrejas e Palácios.

 

Ao pesquisar para a sua obra, houve alguns aspetos que não focou, por uma questão logística, mas que gostaria de ter abordado? Se sim, quais?

Gostaria de ter abordado o desenvolvimento e as consequências da Aliança que Portugal mantém com a Inglaterra, nomeadamente a sequência de tratados que transformam a Pátria portuguesa num desventurado feudo de Sua Majestade britânica.

Como alguém que gosta de fazer pesquisas e de estudar a fundo Portugal e os Portugueses sob diferentes vertentes, que tema gostaria de ver publicado na sua próxima obra?

Precisamente este das relações de Portugal com a Inglaterra. E, numa outra perspetiva, o futuro dos Portugueses integrados numa grande Federação Ibérica, capaz de trazer para a terra portuguesa uma nova dinâmica desenvolvimentista. Com a Inglaterra não passamos de um pequeno território, útil aos seus interesses económicos, políticos e territoriais. Para manter a sua grandeza imperial, o poder britânico esteve sempre ao lado dos Portugueses cada vez que estes se viam ameaçados na sua ",soberania" ou precisavam de ajuda nas suas novas conquistas. Esse auxílio começou com D. Afonso Henriques e as suas guerras. Na tomada de Lisboa, o primeiro rei de Portugal teve o apoio decisivo dos mercenários ingleses que participavam na 2ª Cruzada onde predominavam os cruzados vindos do norte da Europa. Uns anos depois, na Batalha de Aljubarrota, aprenderam a tática inglesa do quadrado e desbaratam o exército castelhano, mantendo Portugal fora do mapa espanhol e os ingleses em boa posição geográfica. Ainda com a mesma determinação de não permitirem a unificação da Península Ibérica, em 1640 os espiões britânicos estão envolvidos no apoio e na preparação do golpe do 1º de dezembro que vem pôr fim ao domínio Filipino de 60 anos. Acabava a ocupação espanhola, não tarda vem a ocupação Inglesa e a Francesa. Ambas são sustentadas com o pretexto de manter Portugal sem aspirações a construir uma nova delimitação de fronteiras. Nem os ingleses queriam Portugal dentro da Espanha. Nem os franceses estavam interessados em ter um vizinho tão poderoso como não podia deixar de ser Portugal e Espanha unidos numa Federação que incluía mais alguns territórios insulares.

Publicado em 1 Agosto 2014

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