Luz e Sombras - Crítica no blogue As Histórias de Elphaba

Luz e Sombras começa logo após o término da história anterior, quando podridão alastrava dizimando as Filhas da Deusa e os Fea, a pouco e pouco, tomavam consciência da perda do que lhes era mais sagrado, do que sempre consideraram como certo, o seu paraíso edílico. Era apenas o início do flagelo…
Embora uma pequena batalha tenha sido vencida, a guerra contra aquelas que vivem em sintonia com a Mãe parece não ter fim. O mal reúne-se. Os homens cegam. As mulheres morrem.
A magia brota como uma maldição e actos cada vez mais insanos, obscuros, são levados a cabo por aquele que, embora mutilado, insurge soldados pérfidos a prosseguir a sua demanda enraizando os seus tentáculos em corações outrora bondosos. Nunca os Fea, nunca as Bruxas, tiveram de chegar tão longe pela sua salvação, pela propagação de tudo aquilo em que acreditam e que a natureza acolhe transformando o bem e os sonhos em realidade. No entanto, ao longe, para lá da Serra da Mãe, enquanto persistirem as jóias da verdade, reside a esperança.

Luz e sombras são conceitos permanentes que vão sendo repetidos ao longo do livro, em diferentes contextos, vinculando a certeza que a perfeição não subiste sem trevas, de que a beleza também tem um lado negro, sendo essa a chave para os afectos mais puros. Assim sucede com a Ceifeira, uma personagem imensa que mais uma vez se encontra em destaque sendo o elo de ligação entre novos intervenientes e antigos, o elo de ligação das almas ao seu repouso final. Tal como a Morte, A Senhora da Floresta surpreende a cada passagem e ao longo de toda a história é soberba a sua evolução e contraste entre outros Fea. Ela personifica a grandiosidade das personagens que só Bishop consegue criar, repletas de honra, poder e temerosas por tudo aquilo em que acreditam. Uma das grandes revelações deste livro.
Com uma vertente mais romântica Musa e Bardo estão cada vez mais próximos dos humanos, desempenhando um papel crucial neste segundo volume, eles são ricos em emoções, em acções repletas de poder que, de pequenos gestos, constroem o futuro para salvação do mundo em que ainda acreditam. Juntos aproximam-nos dos restantes seres da sua raça, aproximam-nos da transformação que todos eles deveriam sofrer e não deixam que fiquem esquecidos aqueles que no livro anterior desiludiram mas que, de certeza, têm ainda um papel fundamental a desempenhar.

No geral, se de princípio nos foi dado a conhecer o problema, agora agrupam-se as armas por tudo aquilo que é precioso para as muitas vidas descritas. O leitor volta a ficar próximo das Bruxas, Breenna em particular, reconhece e aprende mais profundamente sobre diversos Senhores Fea e compreende a dimensão de tudo aquilo que está em jogo nesta batalha entre a Luz e as Sombras. E, se de início, o leitor pode considerar a narrativa um pouco mais leve que a sua antecedente, não se iluda, é imenso o que está para vir e o medo, assim como a mulher, continuam a reiterar página após página. 

Anne Bishop tem uma criatividade magnífica e, embora eu possa ser suspeita por ser uma grande fã sua, penso que é inegável o valor das suas concepções de maravilhoso, bem como das suas personagens.
A autora tem uma escrita bela, fluida e envolvente que facilmente absorve o leitor para o universo fantasioso onde tudo é uma possibilidade, onde é impossível, de uma forma ou de outra, ficar indiferente.
As ligações criadas são enraizadas com o decorrer da leituras que nos permeia com descrições de tirar o folgo e caracterizações extremas que levam a que facilmente se crie laços com a ficção, sendo a vivência, de todo o enredo, muito bem conseguida.
Mestra na sua arte, esta é sem sombra para duvidas uma autora a ter sempre por perto, a seguir com proximidade, capaz de nos levar viajar por histórias que estão tão perto dos nossos sonhos como dos nossos pesadelos, na minha singela opinião, é fascinante.

Pessoalmente, eu sou o tipo de leitora que ficaria horas numa fila, ao calor e ao frio, para dizer a Anne Bishop que adoro o seu trabalho, um dia vai acontecer (eu sei!) mas, até lá, cada livro seu continua a fascinar-me e este não foi excepção.
Neste segundo livro da trilogia Pilares do Mundo foi excelente reencontrar personagens do livro anterior, não só porque isso me permitiu saber o que lhes reservou o futuro, como também confirmar a sua evolução que continuou a surpreender-me. O Povo Menor, embora pouco interventivo, começa agora a cativar-me e, apesar das contrariedades das suas atitudes, acabam por ser na minha perspectiva o lado mais selvagem, menos real, desta história muito ligada à natureza, o que me atrai.
Quanto ao resto gostei de tudo, das perversidades dos inquisidores, da simplicidade das bruxas, das novas povoações, dos novos Fea e dos momentos de humor que a autora conseguiu proporcionar. Gostei do equilíbrio entre bem e o mal, sempre presente, do lado mais triste de toda a narrativa, assim como do lado mais feliz que encoraja os seres ficcionais a seguir em frente. Uma obra magnífica.

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Esta obra é mais uma aposta do Grupo Saída de Emergência pertencente à colecção Bang, que continua a trazer para terras lusas grandes nomes fantástico e ficção, prova disso é esta trilogia com dois volumes já publicados que conquistarão, sem qualquer dúvida, os adeptos deste género literário. Adorei.

Publicado em 27 Junho 2012

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