Mistborn - A imaginação como força motriz da série

Já li muitos livros. A minha biblioteca é imensa e preenchida de inúmeros livros, sobretudo de fantasia, ficção científica e não-ficção, e já escrevi mais de uma centena de críticas para Fantasy Book Review. Em todo esse tempo, eu, honestamente, não acredito que tenha lido um livro tão empolgante e imaculadamente concebido como o volume final da saga de Brandon Sanderson, Mistborn – Nascida nas Brumas.

 

Sofra com cautela

De modo a apreciar este livro inteiramente, imagino que tenham de ler os dois livros anteriores. Sanderson faz um trabalho admirável de apanhar pelo caminho aqueles que possam ter ficado perdidos, mas é provável que não seja suficiente para que se sintam completamente saciados.
Consequentemente, esta história é uma continuação, e daí que não haja muito que possa ser dito sem patentear a perspicaz e deliciosa capacidade de criar do autor, além da enorme magnitude da história que está a ser contada. Passei o livro todo a sofrer, de uma reação emocional e visceral para outra.

Pistas no labirinto
Além de tudo isto, oiço falar de autores que vão deixando pistas no início das séries que compõem, deixando que sejam resolvidas e adivinhadas à medida que a série se aproxima do desfecho. Muitas vezes escapam-me; estou demasiado absorto no livro para tentar resolvê-las. Noutras vezes vejo-as e quase que grunho, fecho o livro e ponho-o de volta na prateleira, queixando-me da previsibilidade de determinados autores.
Sanderson conseguiu de alguma forma não só fornecer pistas que eu pudesse resolver, mas mais do dobro das pistas não consegui desvendar, metade das que tentei adivinhar estavam erradas, e uma mão-cheia de outras não foram resolvidas nos primeiros dois volumes. Aqui não posso revelar nada, mas posso expressar a minha admiração e choque perante alguns dos dilemas e questões explicadas, resolvidas, e distorcidas elegantemente para apresentarem soluções impensáveis. Este terceiro volume tem tudo isso.

O superpoder mais potente de todos é também o mais inovador nesta fantasia: a imaginação
A imaginação que foi a força motriz desta série, especificamente neste terceiro livro, é de cortar a respiração. Sanderson combinou inúmeros aspetos da literatura fantástica com as quais deparámos já tantas vezes, mas desta vez associamo-los a uma história que é completamente diferente, afinando-os e tornando-os mais aptos a ser trabalhados, em vez de ditarem, por si, o curso da história.
Temas como a religião e a morte não são alheios à série, assim como o poder e a impotência, corrupção e bondade. Tecidos como um cesto por mãos exímias, esta história dá-nos laços emocionais aos quais nos ligamos indelevelmente, através do amor e da perda, personagens essas que nunca pensámos que ficariam perdidas numa história também trágica. O enfoque muda dramaticamente, e as sugestões subtis no início de cada capítulo povoam-nos a mente com novas peças de informação, como adágios que demonstram uma sabedoria maior.

A beleza insondável dos sistemas de magia
Muito se diz sobre a capacidade de Sanderson criar sistemas intrigantes de magia. Creio que mais atenção terá de ser dada à sua exímia arte de contar histórias e à humanidade que nelas perpassa. Orson Scott Card descreve Sanderson como alguém «fascinantemente sábio», e o âmbito e profundidade exibidos neste livro, o modo como ele conta a história para captar a nossa atenção, e as lições que as suas personagens enfrentam, sustentam essa afirmação em 100%.
Esta crítica é provavelmente uma das mais verborreicas e superlativas que escrevi. (...) Este livro é uma das histórias seminais de fantasia desta geração de escritores. Sintam-se livres para discordar, mas eu sinto, sinceramente, que este livro foi um dos melhores de que já tive oportunidade, e imenso prazer, em ler. 
 
Publicado em 13 Agosto 2015

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