Monstress - Despertar opinião no Bandas Desenhadas
Conforme noticiámos durante a antevisão da obra, a Saída de Emergência publicou o primeiro volume de Monstress, intitulado Despertar, da autoria de Marjorie Liu e Sana Takeda.
Este mês, a obra foi agraciada inclusivamente com um Hugo Award na categoria de História Gráfica, uma categoria atribuída desde 2009 pela World Science Fiction Convention. Entre os nomeados encontravam-se outras 2 séries em publicação em Portugal – Saga e Paper Girls -, bem como três série da Marvel – Black Panther, Ms. Marvel e The Vision.
Takeda encontrava-se também nomeada para a categoria de Melhor Artista Profissional, prémio atribuído pela terceira vez à ilustradora Julie Dillon.
Não deixa de ser curioso que o regresso da Saída de Emergência à edição de banda desenhada, se dê com duas obras protagonizadas por personagens femininas, ao contrário da primeira incursão com a adaptação dos dois primeiros livros do spin-off da Guerra dos Tronos, Histórias de Dunk e Egg (O Cavaleiro de Westeros e A Espada Ajuramentada, editados nos EUA pela Marvel), apesar de estar omnipresente o género da fantasia.
Tal como em Nimona, também em Monstress os principais personagens destacam-se do universo maniqueísta criado, revelando ambiguidades morais suficientes que permitam a sua identificação como personagens com as complexidades características dos seres humanos (leia-se tal no sentido lato e não nos debruçando nas diferentes “espécies” que populam o volume).
Liu continua a explorar a criação de mulheres agressivas que desejam ser livres para se expressarem como entenderem, convicta que a sobrevivência requer um poderoso desejo de viver. Não é por acaso que uma das suas fontes de inspiração são as narrativas dos seus avós sobre a sua vida na China durante a II Guerra Mundial.
Maika Halfwolf, a protagonista de Monstress, é uma arcânica, uma ordem de criaturas mágicas que podem por vezes passar por humanos. Ela sobreviveu a uma guerra devastadora entre os Arcânicos e os humanos. Se estes últimos contam com as feiticeiras que obtêm o seu poder via os corpos dos Arcânicos, a Maika tem literalmente um monstro dentro dela, repleto de raiva e com o qual ela luta pelo controlo.
Apesar da história iniciar com um leilão de escravos onde os homens fazem as suas ofertas, o mundo pós-apocalíptico de Monstress é governado por mulheres que lutam pelo seu domínio, com armas que variam desde lança-chamas a espadas e feitiços.
Numa história onde se aborda a escravidão e o racismo, Liu também se dedica à guerra e às experiências pós-traumáticas da mesma.
A obra alimenta-se ainda do folclore e a cultura popular asiática com que as autoras contactam, em especial a chinesa de Liu e japonesa de Takeda, bem como do género fantástico em geral e do steampunk em particular, criando um universo simultaneamente original mas familiar.
Marjorie Liu e Sana Takeda tinha trabalhado pela primeira vez em X-23 da Marvel, uma personagem feminina também conhecida pela sua agressividade. Monstress é uma obra visualmente inspirada pelo manga e os comics norte-americanos, bem como nos géneros em que se alicerça. O olho do leitor é confrontado com desenhos detalhados e uma colorização perfeitamente coincidente com a atmosfera requerida em cada momento, primazia de Takeda ser responsável por toda a arte gráfica do volume.
Após a leitura do primeiro livro, certamente que os leitores ansiarão pela edição do segundo, lançado em julho deste ano nos EUA.