O Destino do Assassino - Opinião no Noticías de Zallar

Que final! A macrosaga de Robin Hobb, intitulada Realm of the Elderlings e iniciada em 1995 com Assassin’s Aprentice, chega ao fim, atando todas as pontas deixadas em aberto nas séries FarseerLiveship Traders, The Tawny Man, The Rain Wilds Chronicles e nesta última, Fitz and the Fool. A segunda e quarta sagas não foram traduzidas em português, mas é possível compreender todo o final sem as ter lido, uma vez que há toda uma nova introdução às personagens e às suas histórias.

Este volume final, Assassin’s Fate, foi publicado em 2017 e venceu o Gemmell Legend Award para Melhor Romance em 2018, chegando a nós em dois volumes, o primeiro dos quais publicado em outubro de 2018 como A Viagem do Assassino, pela Saída de Emergência. O volume derradeiro foi traduzido como O Destino do Assassino, numa edição com 512 páginas e tradução de Jorge Candeias, como vem sendo felizmente hábito.

Há uma mistura de sentimentos durante a leitura e após a conclusão do livro. Há a fome de o terminar e o desejo que não termine nunca, há o não saber o que achar, o não saber como engolir esta chuva de acontecimentos e o desfecho que Robin Hobb atribuiu aos seus personagens, que fazem invariavelmente parte de todos os que acompanham as aventuras de Fitz desde o primeiro momento. Não sou uma pessoa de vibrar facilmente com filmes ou livros, menos ainda de lacrimejar com qualquer história, e vi-me a limpar lágrimas do rosto com este livro.
 

“Os Servos acreditam que Abelha é uma profeta há muito aguardada, o Filho Inesperado.

Ao fechar a última página, pensei para mim que O Destino do Assassino não é, como volume isolado, o melhor da saga. Os primeiros 65% foram vibrantes, um ritmo e uma sucessão de acontecimentos surpreendente e incrível, que superou as minhas melhores expectativas, para depois assistir a uns morosos 30% de duas viagens sem grande significado narrativo para além do desenvolvimento de relações e de oferecerem consistência à história, antes das machadadas finais.

Acabei por reavaliar esta primeira ideia, porque o Assassin’s Fate de Robin Hobb são os volumes A Viagem do Assassino e O Destino do Assassino, e ao avaliar estes dois livros como um, posso dizer então que sim, os timings são perfeitos. E talvez eu tomasse outras opções, como um final mais épico em plena Clerres, mas compreendo a opção da autora em querer sentenciar de forma mais profunda e envolvente a história, com cenários e reminiscências das sagas anteriores.

Adoro a forma como Robin Hobb consegue dar tanta credibilidade a uma história recheada de dragões e magias, e tocar-nos com a sua sensibilidade única e escrita tão elegante quanto quente e terna. Há poucas palavras a tecer para uma autora que escreve como poucos. Sinceramente, não consigo encontrar um escritor que transmita tantas sensações e emoções com a sua escrita, independentemente do género literário. Hobb é única e incrível naquilo que faz. E, nesse sentido, não posso deixar de tecer laudas ao trabalho do tradutor.

Não ter lido ainda Liveship Traders e The Rain Wilds Chronicles, que não foram publicados em português, pode ter-me deixado escapar algumas referências, mas uma vez que pesquisei sobre as séries e as suas personagens antes da leitura das sagas seguintes, acabei por não sentir que tenha deixado escapar grande coisa. Penso até que sem qualquer pesquisa, as suas histórias são bem compreensíveis nestes dois últimos volumes.

 

“Há uma mistura de sentimentos durante a leitura e após a conclusão do livro.”

E gostei bastante de conhecer Malta e Reyn, Alteia, Wintrow, Brashen, Moss-O, Vivácia, Modelo Ideal, Leftrin ou Alise. Mas a história acaba por se focar muito mais em FitzCavalaria e naqueles que permeiam a sua vida desde o início. Durante a leitura destes livros finais, projetei uma série de teorias que acabaram por falhar redundantemente, mas que espicaçaram e muito o meu interesse e devoção pela série.

Especulei que o corvo Matizada fosse Veracidade, com base na sua relação com os dragões, como pela sua relação com Fitz, Kettricken e Respeitador, mas também pelo sentido de família que Fitz sentiu vir dela, mas ficou claro para mim que estava enganado, apesar de a origem e a natureza do animal ainda formarem um mistério. Talvez devamos mesmo assumi-lo como aquilo que é. O facto de Per ser imune a qualquer espécie de magia também me deixou sem qualquer explicação. Mas não precisamos de respostas para tudo.

O livro começa com uma força terrível e os acontecimentos em Clerres são ainda mais surpreendentes e incríveis do que eu podia esperar, só me deixando de boca aberta capítulo após capítulo. Quem diria que Fitz teria o papel que teve? Ou mesmo a pequena Abelha? As personagens foram desenvolvidas e construídas com uma força e emoção tremendas e o livro faz-lhes justiça em toda a sua extensão. Nos parágrafos seguintes deixo-vos alguns spoilers desta saga, que não beliscarão em muito a vossa percepção sobre os livros.

Abelha foi raptada e Fitz e o Bobo juntam-se aos Mercadores de Navios Vivos para dar caça aos seus captores. O destino é o castelo inexpugnável de Clerres, onde os Profetas Brancos desenvolvem desde tempos longínquos redes de possibilidades para os destinos do mundo, moldando-os à sua vontade. Mas tudo mudou quando Amado se rebelou e junto do seu Catalizador, FitzCavalaria Visionário, destruiu a Mulher Pálida e libertou os dragões para o mundo.
 

“Sem qualquer hesitação, digo que é a melhor saga já concluída que alguma vez li.”

Quebrado por fora e por dentro, o velho Bobo, que na verdade é Amado, chega a Fitz para lhe pedir ajuda, no mesmo momento em que a filha deste é raptada pelos seus perseguidores, os Brancos chamados Servos. Se Fitz se sentia relutante em ajudá-lo, a captura da filha, que o Bobo alega ser também sua, dá-lhe todos os motivos e mais alguns. Os Servos acreditam que Abelha é uma profeta há muito aguardada, o Filho Inesperado.

Mas a sua captora, Dwalia, não é muito bem vista em Clerres, e ao contrário do que pensava ninguém acredita realmente que aquela menina seja o Filho Inesperado, mantendo-a em cativeiro junto de um velho conhecido de Fitz e do Bobo. A chegada destes a Clerres vem carregada de surpresas, umas mais contundentes que outras, mas a sua principal oposição serão os Quatro governantes do castelo, Coultrie, Capra, Symphe e Fellowdy, ou será o jovem, poderoso e desesperado Vindeliar?

Prefiro não revelar mais sobre o enredo. O final é doloroso e emocionante, faz-nos revisitar momentos de vida de Fitz, faz-nos compreender a narração em pontos de vista na primeira pessoa, faz-nos amar aquelas personagens mais do que já amávamos. Como um todo, esta é a minha “trilogia de cinco” preferida de Robin Hobb, e ainda que o primeiro volume, O Assassino do Bobo, continue a ser o meu preferido, este último fez justiça às minhas melhores expectativas. Sem qualquer hesitação, digo que é a melhor saga já concluída que alguma vez li.

Avaliação: 9/10

Publicado em 14 Maio 2019

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