O Herói das Eras - Crítica em Morrighan
Desde que li Brandon Sanderson pela primeira vez que fiquei maravilhada. Na discussão de géneros literários, é comum encontrar argumentos entre os mais cépticos de que este nada tem a acrescentar, que é tudo uma grande fantasia e que ler coisas que não são reais é uma perda de tempo. Obviamente ainda não se cruzaram com os autores certos. Já nem vou para livros como o 1984 ou o Admirável Mundo Novo, distopias que se tornaram quase absurdamente reais, mas olhando para os livros de Brandon Sanderson há muito que podemos encontrar, por vezes com uma máscara mais mística (ou não), que nos arrepia até ao âmago por sabermos que existem certos níveis de maldade, calculismo, frieza e sede de poder, que conseguem transformar qualquer ser humano num pequeno monstro.
Tudo isto para vos dizer que esta primeira parte do último livro da trilogia Nascidas nas Brumassoube a pouco, como sabe sempre algo que é muito bom e que não temos a oportunidade de terminar. O autor tornou-se num dos meus favoritos de sempre. A sua escrita, a forma perspicaz, inteligente e eloquente com que monta os cenários, desenvolve as personagens e desenlaça as intrigas é notavelmente superior à da grande maioria de autores que já li dentro do género. Exagerada? Talvez sim, talvez não, mas não será sacrilégio dizer que o coloco ao mesmo nível de George R.R. Martin ou Peter V. Brett, outros favoritos.
Elend tem sido a maior surpresa ao longo dos vários episódios. Houve momentos de descrença em relação a este protagonista, mas com o avançar da trama tornou-se claro que o equilíbrio passa também por ele e, ainda agora, mantém-se o mistério sobre qualquer será o seu derradeiro papel.
Sazed é, neste momento, quem mais me aperta o coração. Como é que uma pessoa que baseou toda a sua existência numa série de crenças, consegue agora sobreviver sem qualquer bengala, sem qualquer pessoa ou motivação que o faça acreditar em seja o que for? Mantém-se ao lado dos seus amigos por lealdade, mas já não consegue ser o conselheiro ou a fonte de segurança que era antes.
Vin continua igual a ela mesma. Os medos não desapareceram, alguns aumentaram, mas o facto de se considerar o Herói das Eras traz-lhe todo um peso que muitas vezes tem de repartir com Eland para não sufocar nele.
E chegado a este ponto, à primeira metade do último livro, deparamo-nos com uma total imprevisibilidade no que ao futuro diz respeito.
Uma coisa é certa, a intensidade e a tensão com que os acontecimentos se vão dando nunca estiveram tão fortes, tão em ponto de ruptura. Vão-nos sendo desvendados os mistérios da alomância, da feruquimia e da hemalurgia, sabemos mais sobre os kandra, temos revelações terríveis sobre os colossos, mas nada disto nos apazigua, pelo contrário, temos ainda mais consciência de que algo de muito negro e muito errado pode acontecer a qualquer momento. E é nesta expectativa ansiosa e urgente que aguardo pelo desfecho desta magnífica trilogia. O trabalho do escritor está só soberbo. Aconselho vivamente, quer gostem do género Fantástico, quer não.