O Império Final - Crítica e Livros a Doi2

Cada vez que começo uma nova saga de fantasia sinto uma oposição de interesses. Não me levem a mal, gosto de ler e gosto do estilo fantasia em particular, mas sou exigente, não consumo todo o tipo de fantasia.
Quanto à questão de interesses, quando começo uma série nova é sempre com um pé atrás. Em virtude de ter tantas séries, que sigo em aberto, não tenho interesse em acrescentar mais se não tiverem qualidade. Assim, quando pego numa nova saga, estou sempre pronto para a colocar de lado se não me agradar. A oposição existe porque paralelamente pretendo que o livro me agrade, porque é esse o objectivo principal das minhas leituras.
 
O Império Final da saga Mistborn prendeu-me desde o início. É o meu estilo de fantasia, não aparecem dragões só porque fica bem, não há elfos irritantes nem anões resmungões. Sanderson não inventou a roda, o seu mundo não é algo de muito diferente do que estamos habituados mas convenceu-me.
 
E porquê? Primeiro porque não é fantasia simplificada para agradar jovens adultos, o ambiente é negro do início ao fim do livro, a brutalidade dos acontecimentos seja a nível psicológico, seja físico é bastante vincada e não nos deixa indiferente.
 
Depois claro são as personagens, especialmente as principais. Vin e Kelsier estão bem caracterizados e agradam ao leitor. As suas histórias não nos são impostas logo de início, não, vamos conhecendo-as ao longo do livro. Aliás todo o livro é um desvendar de pormenores, seja para conhecermos os personagens seja para aprendermos as características do Império Final. Existem outras personagens que cativam, como é o caso do mordomo Sazed ou o nobre Elend. Mas houve duas personagens que me fascinaram especialmente, Kelsier e o Senhor Soberano. Kelsier tem um passado enegrecido, sendo um anterior chefe de bando de ladrões, é um lutador de poucos sentimentalismos, mata sem pensar duas vezes, vinga-se como se não houvesse amanhã e tudo com um sorriso nos lábios, transmite uma imagem egocêntrica e algo narcisista colocando o leitor no dilema se Kelsier não teria tudo para se tornar noutro Senhor Soberano, mas será que é apenas a vingança que o move?
 
Se Kelsier nos suscita dúvidas, o vilão, o Senhor Soberano também nos cria mas no sentido contrário. Ao longo do livro, vamos lendo excertos do que é atribuído como sendo as memórias do Herói das Eras que mais tarde se tornaria no Senhor Soberano. E ao lermos esses excertos é perfeitamente natural que nos questionemos sobre o que terá acontecido a este personagem para se transformar no oposto, ou seja de herói salvador do mundo para o mais brutal dos vilões.
 
Uma palavra também para a constante evolução de Vin ao longo do livro. É o cliché da heroína típica de um livro de fantasia, o jovem que não tem conhecimentos quase nenhuns mas que se torna no final superior, ao fim de alguns meses de aprendizagem, capaz de fazer aquilo que os outros nem durante muitos anos de prática conseguem. Mas apesar de ser um tipo de personagem recorrente neste tipo de livros, a forma como Vin nos é apresentada, os passos que ela vai dando para continuamente evoluir ao longo do livro, separam-na um pouco do chavão em virtude de algo que normalmente não é tão abordado, a evolução psicológica.
 
Aquilo que menos me agradou foram as batalhas, ou lutas, com a utilização da alomância. Tinham um aspecto demasiado ao estilo Super-Heróis da Marvel, aliás a incursão de Kelsier no início do livro à fortaleza Venture foi a única altura em que vacilei na leitura. Os vôos ao estilo filme de Kung Fu manhoso, a facilidade com que Kelsier despacha os guardas e mesmos alguns alomantes pareceu-me deslocado em termos de qualidade para o resto da obra.
 
Mais à frente vamo-nos habituando, talvez até porque as lutas com os inquisidores ou até alomantes mais poderosos acabam por equilibrar um pouco as coisas. De qualquer das formas, ao meu gosto, preferia que a inclusão destes poderes fosse um pouco mais terra-a terra.
 
Mas no fim tudo se resume à narrativa, e a forma como a história nos é contada é extremamente apelativa. O ritmo é rápido e constante, não há tempo para descrições pormenorizadas e tudo o que queremos saber vamos descobrindo ao longo do livro. Pois é com o passar das páginas que o autor vai desvendando os pequenos segredos, as características das personagens e as razões da sua maneira de ser.
 
Descansem os leitores que apesar de esta ser uma trilogia, este livro tem um fim. É verdade que há mais neste mundo do que aquilo que nos foi contado, mas a parte da história que o autor se propôs a contar termina, é um livro com princípio meio e fim, mas novos mistérios se apresentam perante nós e assim que venha o próximo livro rapidamente.
Publicado em 10 Julho 2014

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