O Império Final - Crítica em Deus Me Livro
Numa época em que os livros de fantasia chegam às livrarias como maçãs maduras caem das árvores num dia ventoso, parece cada vez mais difícil encontrar um livro que sobressaia em relação aos seus muitos pares. Ainda assim, e com a porta para o deslumbramento mantida num estado semi-aberto, há sempre a esperança de encontrar uma pérola no meio de um palheiro de ostras. “O Império Final” (Saída de Emergência, 2014), saído da pena de Brandon Sanderson, é motivo mais do que suficiente para que os amantes da literatura fantástica saiam à rua e façam a festa até ao raiar do dia.
Brandon Sanderson não é propriamente um desconhecido, apesar da tradução deste primeiro volume da saga Mistborn – Nascida nas Brumas chegar com oito anos de atraso. Foi ele que, após o falecimento de Robert Jordan, terminou a série de fantasia épica A Roda do Tempo. Em 2010 iniciou uma nova série intitulada Stormlight Archive, que conta até agora com dois títulos – “The way of kings” e “Words of radiance” -, e que se veio juntar a outras séries direccionadas para o público jovem-adulto. Dá também aulas de escrita criativa, participando em podcasts sobre escrita e o género fantástico.
No mundo governado pelo império final, caem cinzas do céu e a noite é dominada pelas brumas. É uma sociedade feudal dominada pelo Senhor Soberano, de quem se diz ter alcançado a imortalidade, onde os nobres dividem entre si a riqueza e o povo dos Skaa vive escravizado e na absoluta miséria, aparentemente já sem uma ponta de rebeldia que possa instigar a uma rebelião e à queda do poder instituído.
A esperança parece perdida até que Kelsier consegue escapar dos Poços de Hathsin, passando a ser conhecido como o sobrevivente de Hathsin. É no interior da terra que Kelser explode, termo utilizado para descrever o momento em que alguém é tocado pela Alomância, uma arte mágica relacionada com os metais e que o transforma num “nascido nas brumas”, alguém que é capaz de invocar o poder de todos os metais.
Outrora famoso ladrão e líder carismático no submundo, Kelsier põe em marcha um plano que tem tudo para correr mal: derrubar o Senhor Soberano e, ainda que tal apareça nas letras pequenas, reformar o sistema político.
Depois de reunir um grupo de elite onde reina alguma incredulidade mas muito boa disposição, Kelsier descobre uma orfã skaa chamada Vin, que vive nas ruas mas mostra, ainda que não se dê totalmente conta disso, uma forte apetência para a magia dos metais. Na sua companhia, Kelsier julga poder cumprir o sonho de mudar para sempre o destino do Império Final.
Brandon Sanderson constrói uma história à volta da dualidade herói/vilão e que lida, de forma surpreendente, com os valores da amizade, da esperança, do amor e do sacrifício; e, igualmente, com a ideia de política. Há também uma centelha de romance teen, mas que nunca chega aos patamares melosos de sagas como Jogos da Fome ou Divergente.
Para aqueles que sentirem algumas dificuldades com os poderes dos metais, bem como com compreender os desígnios da alomância, o final do livro oferece um pequeno e muito útil guia. Não procurem mais: está encontrado o melhor livro de literatura fantástica com edição nacional este ano.