O Poço da Ascensão - Crítica em Uma Biblioteca em Construção
Estava ansiosa por este volume e assim que ele me chegou às mãos tive que o começar a ler. Tinha muitas expectativas, afinal Império Final, o livro que abre a Saga Mistborn - Nascida nas Brumas, proporcionou-me uma leitura inesquecível e era isso que eu desejava para este livro. E sabem que mais? ComO Poço da Ascensão voltei a sentir-me arrebatada por um livro, surpreendida pelo desenrolar da acção, cativada pelas personagens e maravilhada pelo mundo criado por Brandon Sanderson.
Vin revela que é uma persongem que não pára de evoluir. Um leitor atento repara nas mudanças que se vão operando nesta protagonista. Ao início, a dor da perda leva-a a ser dominada pela revolta interior. Esta posição apenas é percebida pelas suas reflexões e forma como trata um determinado ser. Por isso mesmo, ao início parece um pouco adormecida, o que é compreensível. Mas um certo sinal leva-a a um despertar gradual, e é aqui que se começa a reparar na sua nova maturidade e na força da sua intuição. A confiança que deposita nos outros volta a ser um ponto fulcral para a obra e os sentimentos nem sempre são bem compreendidos. Mas o que acabou por me suscitar maior curiosidade foram as novidades quanto às suas capacidades de alomante. É impossível não parar de imaginar o que o autor lhe reserva!
Apesar de Vin ser a protagonista, esta obra só tem a força que tem graças à complexidade das personagens secundárias. Sazed continua a ser uma figura que me prende completamente a atenção de cada vez que surge. Adorei ficar a conhecê-lo melhor e acompanhar os seus estudos e aventuras. Elend ganha uma nova dimensão ao longo desta obra. O rapaz idealista também evolui e acaba por descobrir que é dotado de novas e inesperadas capacidades. Brisa revelou-se um homem muito diferente daquele que foi apresentado no início do primeiro volume. É interessante verificar a diferença entre o homem que ele é e aquele que demonstra ser. O Coxo também acabou por se revelar alguém mais profundo do que aparenta e Susto volta a ser uma figura divertida mas também demonstra que todos nós temos defeitos que não gostamos de admitir.
Brandon Sanderson já tinha apresentado alguns seres fantásticos em O Último Império, mas adorei a força que eles ganharam neste volume. Estou fascinada com os kandra. Estes seres tão temidos, misteriosos e incompreendidos não param de surpreender ao longo da leitura de O Poço da Ascensão. A ideia do Contrato, a história ligada a este acordo, as suas capacidades e sentimentos fazem dos kandra um dos grandes atractivos deste mundo. O autor ainda não deu todas as repostas sobre estes seres, mas faz algumas revelações e, assim, aguça a curiosidade.
Neste livro são também introduzidos os colossos, seres que podem fazer lembrar os orcs pela violência, desorganização social e aspecto medonho mas que acabam por lhes ser diferentes. Os colossos surgem como uma das maiores ameaças, e penso que isso acontece não só devido à sua força mas sobretudo por serem considerados impossíveis de controlar. Por isso mesmo, penso que os colossos podem ser comparados à parte mais cruel e destruidora da natureza.
Apresentada a minha opinião sobre algumas das personagens e dos seres que mais me cativaram, deixem que vos fale do desenrolar da história. Tal como aconteceu em O Império Final, também em O Poço da Ascensão é difícil prever o que irá acontecer na próxima página. Existe uma ideia sobre como poderá ser o final, e essa até pode estar ligada à verdade (pelo menos em certo ponto), mas o caminho até lá chegar é uma surpresa. Quando pensamos que sabemos como os obstáculos vão ser ultrapassados, Brandon Sanderson mostra que afinal o que é mau pode ainda ser pior e apresenta ainda mais problemas.
Os jogos de poder, as intrigas e as estratégias de guerra são aspectos muito bem conseguidos. É verdade que ao início a trama pode parecer mais lenta do que o desejado, pois o autor tem que nos colocar a par de todo o que aconteceu desde o final do primeiro volume da saga. Porém, assim que estas ideias são transmitidas verifica-se que a intensidade da narrativa cresce de página para página, até chegar a um ponto em que é difícil parar a leitura. Ao longo de todas as provações, é possível verificar que a amizade, dever, amor, confiança, manipulação e poder são temas recorrentes.
Também desta vez senti que o autor conseguiu chegar a uma conclusão apesar de manter a história em aberto para o próximo livro da saga. Gosto bastante de sentir que aquilo que eu ansiava desde o início da leitura aconteceu, e não sinto de forma alguma que o livro acabou de uma forma abrupta, mas sim no momento certo.
Não posso escrever esta opinião sem falar da capa da edição portuguesa desta obra. E mais uma vez as Edições Saída de Emergência estão de parabéns, pois é maravilhosa. Luís Melo volta a ser o autor da ilustração e, mais uma vez, apenas usa elementos que estão ligados à trama. Vin, como protagonista, volta a ser a figura central e o movimento que sugere dá a ideia da intensidade da acção. Os tons negros da noite em contraste com a cor púrpura do manto da Nascidas nas Brumas fornecem uma ideia de mistério e magia. Devo dizer que já juntei os meus dois exemplares na estante e eles ficam fantásticos juntos.
Chegando ao fim da opinião, penso que já ficou mais do que evidente de que adorei O Poço da Ascensão. Estou completamente rendida a este mundo Brandon Sanderson consegue fazer-nos sentir que também estamos ao lado das personagens a viver todas aquelas aventuras. A história e os temas apresentados fazem-me acreditar cada vez mais que esta é uma saga intemporal. Mal posso esperar pelo terceiro volume!