O Prisioneiro da Árvore - Crítica no blogue As Histórias de Elphaba

Existe uma satisfação muito particular quando se chega ao fim de uma tetralogia que atinge a dimensão, histórica e factual, de As Brumas de Avalon no passado, e ainda hoje, na literatura fantástica. Algo que se reafirma de forma muito especial para os amantes, como eu, deste género literário mas, igualmente, para todos aqueles que têm capacidade de se emocionar com os factos narrados nas entrelinhas e, neste livro em particular, com um fim, um epílogo, derradeiramente perfeito.

Cavaleiros e donzelas, réis e rainhas de variadíssimos tronos, crenças e heranças, deram vida a esta história épica e harmoniosa de batalhas duras, de ódios e amores intensos, bem como de magia pura que se converteu em sangue capaz de regar a vida, de regozijar a morte tão definitiva quanto a força de acreditar.

∞Esta opinião contém spoilers para quem não leu os volumes anteriores. ∞

Porque ela marca definitivamente, e de todas as formas, esta história….
Quem chega a este volume de As Brumas de Avalon, certamente que recordará, com nostalgia, uma Morgaine que de menina se fez mulher por uma Deusa, recordará, com mágoa, o oferecer da sua flor a seu irmão e recordará, igualmente, com respeito, eterno respeito, a sua coragem para superar duramente, e de forma absolutamente errada, os veios de uma maternidade que poderia oferecer ao seu mundo a esperança em tudo o que ainda estava para vir.
A esperança foi a bênção e a maldição da nossa narradora, Morgaine, que arriscando tudo, com todas as falhas e todos valores que a humanidade pode abraçar, sobrevive para além da imaginação para nos contar como tudo começou e como tudo termina, finalmente, num dos melhores clássicos Arturianos já mais publicado.

A esperança, a fé absoluta, foi um dos temas centrais ao longo deste texto. Entre intrigas, dissabores e paixões, a fé foi a que chegou a mais facilmente todos os povos e a que mais dificilmente recuou, perante as provações, para aqueles que em si depositavam toda a credulidade. A fé manteve-se constante independente da crença, Cristianismo ou Paganismo, e enraizou-se profundamente em todos aqueles que precisaram de acreditar para chegar mais longe. A fé fez cristãos os que eram mais pagãos e, com a mesma intensidade, redobrou as forças de todos aqueles que nasceram para adorar os mistérios de Avalon. Independentemente de se encontrar numa casa na floresta, independentemente de se encontrar numa corte exuberante, a fé foi o princípio e o fim de uma geração de personagens que conquistou muitas gerações de leitores.

Incestos e traições, amizades que ultrapassaram o amor e, principalmente, honras capazes de ultrapassar a verdade, foram apenas alguns dos temas que me foram maravilhando enquanto folheava intervenientes de carácter forte, personalidades retorcidas e anseios diversificados para proveitos próprios ou em nome de um bem maior. Houve direito a tudo nesta história, fosse ele dominado de sagrado ou pecado mas, confesso-vos, que entre o brilhantismo, a beleza e os festins da corte, entre as glórias, a força e a lealdade de uma Távola Redonda e entre o poder, a magia e o misticismo de ver para além dos homens fica, representado por Morgaine e não só, uma ovação lindíssima à mulher com seus defeitos e virtudes.

Quanto a este último livro em particular, porque apesar da retrospectiva é dele que se trata esta opinião, este encontra-se profundamente marcado pela passagem do tempo e pelo seu peso na vida de todos os intervenientes que conhecemos na meninice e agora se deparam com o peso da idade. As personagens femininas, sempre com um destaque especial no tecer das linhas do destino de todos, são agora maduras e sofrem agora com todas as dificuldades que advém com os primeiros sinais do fim. O passado, o presente e a ausência de um futuro ambicionado para Avalon e Camelot espelham esse retrato acabado, desgostoso, de quem julgou conseguir ultrapassar tudo e termina amealhando pedaços de nada, batalhas quase fracassadas e conquistas mornas para sangues temperados e outrora fervidos. Em O Prisioneiro da Árvore, é tempo de arriscar tudo antes do fim mas é, igualmente, o tempo de reflectir sobre todo o que aconteceu e saborear a compensação agridoce de vidas plenas.

Embora já tenha divagado suficiente sobre ela, sobre a fé, é impossível que esta não seja novamente referida devido à convicção com que é explorada ao longo destas páginas, críticas ao seu fanatismo e ao seu poder sobre o homem. Oh sim, a fé move montanhas, reavive almas mas, que fique claro, mata outros tantos à sua passagem. Que fé é esta?
Para mim, Joana, ateia, a fé está no meu íntimo e nas minhas capacidades e vontades, porém quando vejo centenas de milhares em frente à Basílica de Roma, é impossível não tentar compreender a fé de tantos outros, um pouco da fé descrita por Marion Zimmer Bradley.

Concluindo, porque não vou repetir o que foi dito em opiniões anteriores quanto ao esmero, à magnificência e ao extraordinário talento em todos os sentidos desta autora, ficam os meus sinceros parabéns quanto à beleza desta edição postular levada a cabo pela Saída de Emergência, que conseguiu inovar esteticamente este clássico tornando-o contemporâneo para uma nova geração de leitores, como eu.

Dizer que este livro é indispensável para qualquer amante de fantasia pode ser um exagero mas, definitivamente, sinto-me corajosa o suficiente para dizer que vos marcará e vos levará a encarar este género de ficção com um novo olhar e com um novo nível de satisfação. Recomendo fervorosamente.

Publicado em 5 Março 2013

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