Os Três - Cuidado com este livro...

Todos os anos surge um livro que utiliza os mecanismos da ficção de género mas que é escrito ao estilo de um “bestseller de massas”, atraente para todos os leitores. O ano passado, o livro que obteve essa honra foi As Raparigas Cintilantes, de Lauren Beukes; para 2014, aposto em Os Três de Sarah Lotz.

 

Uma colmeia de medos

Por coincidência, Lotz, assim como Beukes, é sul-africana. Tem um ouvido apurado para as diferentes tessituras culturais, e fielmente narra a história d’ Os Três através de palavras diretas de… se não milhares de narradores, certamente os suficientes para fazer com que um romancista se tenha que repartir por uma colmeia de vozes narrativas diferentes.

 

Datas fatídicas

A obra em si aparenta ser as notas da jornalista Elspeth Martins para um livro de não-ficção sobre os fatídicos acontecimentos de 12 de janeiro de 2012 – uma data que fica gravada na memória das personagens de Lotz com o poder real do 11 de setembro.

É extremamente difícil escrever um livro neste modo e manter uma narrativa dramática concordante, assim como elaborar entrevistas, artigos de jornal, extratos de relatórios e notas transcritas tal como se fossem genuínas. Lotz manuseia tudo isto com graciosidade e ao fazê-lo, cria aquilo que se poderá considerar como um cenário estranhamente convincente diretamente do coração de um apocalipse que já fazia falta.

 

Cuidado com este livro

Quiçá seja um blockbuster de verão, porém aqueles que sejam naturalmente nervosos e receosos poderão querer pensar duas vezes sobre levar Os Três para ler nas férias ou numa fuga de fim-de-semana – no seu âmago é o pior desastre aéreo de sempre quando, na data supra mencionada, quatro aviões caem quase simultaneamente. Toda a tripulação e passageiros morrem, exceto uma criança em três dos quatro acidentes – um trio de crianças com a mesma idade que se tornam globalmente conhecidas como Os Três, e perseguidas pelos órgãos de comunicação internacionais.

 

O belo horrível

A beleza desta obra reside no facto de Lotz misturar os relatos assustadores na primeira pessoa daqueles que se encontram próximos das três crianças com a histeria internacional inevitável, que se inicia quando uma pequena igreja cristã fundamentalista advoga a ameaça iminente do apocalipse. Mas serão Os Três os Cavaleiros do Apocalipse, ou as vítimas inocentes do frenesi da comunicação social? E se isto é realmente o Apocalipse a aproximar-se, serão estes acontecimentos parte do julgamento final ou simplesmente criámos tudo isto sobre nós próprios?

Lotz mantém o ritmo narrativo com uma ambiguidade ágil e com terror suficiente para nos fazer parar de respirar. É um romance confiante, sólido e inspirador, merecedor de um público leitor tão vasto quanto possível.

Publicado em 29 Setembro 2014

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