"Os Três" - Um livro dentro de um livro


(2ªparte)

Um livro dentro de um livro

Além de ser um romance epistolar, Os Três tem também um livro dentro de um livro “Da Queda à Conspiração”, da autoria da jornalista de investigação fictícia Elspeth Martins. Conforme o título indica, o livro de Elspeth documenta uma série de acontecimentos tumultuosos no período de alguns meses logo após o dia dos quatro acidentes. Relatado através de uma coleção de entrevistas narradas, excertos de livros e websites, artigos jornalísticos, transcrições de voz, emails, conversações e histórico chat, entre outros, este livro é uma visão perturbadora de como o medo e o pânico podem rapidamente provocar o descontrolo social. Este formato textual prova ser o ideal para este romance, considerando o número de personagens envolvidas e as suas perspetivas num plano internacional.

 

Não acredites em tudo o que lês…

Estilisticamente, a decisão de Sarah Lotz contar a história desta forma acrescenta ainda uma camada adicional ao fator terror, devido à implicância de que alguns narradores possam não ser fiáveis, incluindo a “autora” Elspeth, cujo profissionalismo é questionado com acusações de apenas retirar citações fora do contexto ou representar erradamente determinadas perspetivas, movida apenas pelo desejo de criar jornalismo imediato e sensacionalista.


Ambiguidade e mistério

Dito isto, eu normalmente aborreço-me com a ambiguidade. Mas de alguma forma, com Os Três isso faz sentido. No modo como o livro é estruturado, captamos vislumbres das vidas das três crianças através dos olhares dos respetivos guardiões – que também perderam alguém no acidente. Haverá mistério e alguma incerteza. Será que as estranhas coisas que elas relataram aconteceram mesmo, ou não terá sido outra coisa que sintomas de choque, culpa e angústia? As narrativas múltiplas e variadas far-vos-ão tentar adivinhar e ler desesperadamente em busca de respostas, mesmo quando os acontecimentos são arrepiantes demais para aguentar. O primeiro capítulo da personagem Paul Craddock (o tio de um d’Os Três) abalou-me tanto que quase não conseguia racionalizar o facto de precisar de ir à casa de banho a meio da noite, pois tal significaria caminhar através da escuridão da casa. Maldito seja este romance por ser tão viciante e empolgante que me fez ficar até às 3 da manhã a ler!


Um medo ‘divertido’

Se realmente foi o meu objetivo encontrar um romance que me assustasse verdadeiramente, parece que tive até sucesso a mais. É garantido o facto de provavelmente me ter afetado mais devido à minha fobia em voar; se houver alguma desvantagem para as pessoas que têm medo de voar lerem este livro, é que este livro vai alimentar o medo. Mas a vantagem? ESTE LIVRO VAI ALIMENTAR OS TEUS MEDOS. O paradoxo do horror clássico: é divertido ter medo e apanhar sustos valentes. Não me consigo lembrar de nenhum romance que me tenha enervado e assustado tanto e tão intensamente. Sem dúvida alguma, Os Três é um dos meus livros de topo deste ano, e merece ser um sucesso estrondoso.

(1ª parte aqui)

Artigo de M. Mogsy, uma leitora de horror do blogue Bibliosanctum

Publicado em 7 Outubro 2014

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