Ponte de Sonhos - Crítica no Blogue Histórias de Elphaba

É impossível resumir este enredo em poucas palavras, ele é um todo com origem no passado que finalmente se compõe, mas vou tentar…
 
Imaginem que existe em vida quem crie o espaço, a terra, o mundo, de acordo com as necessidades de cada um, até do ser mais vil, é um alguém que controlando esse pedaço de terra lhe dá forma à imagem dos que nela habitam. Imaginem que existe em vida quem construa pontes, pontes que ligam as terras, pontes que definem o ali e o agora como algo ilimitado e alcançável. Imaginem, todos vós, que o vosso destino, e quem sabe o vosso lar, é o vestígio mais profundo e desconhecidos que reside no vosso coração num determinado momento, num momento que pode definir a existência ou a morte. Por fim, imaginem, imaginem e cuidem os vossos anseios porque em Efémera, do inferno ao paraíso, tudo se encontra a um bater de asas de uma borboleta capaz de equilibrar este mundo maravilhoso.
 
Os seres, nesta realidade ficcional, são muito diversificados; há construtores de pontes, paisagistas, músicos do coração e demónios, tantos, todos tão horríveis quanto sublimes, como os magos, assustadores, como os humanos, a eterna raça crucial mas por vezes ignorante quanto ao que a rodeia. Todos, sem excepção, têm as suas batalhas repletas de perigos para enfrentar, de conquistas, mas a maior guerra é silenciosa, aterrorizadora, ela tem que ver com escolhas, com sentimentos que todos têm, quem sabe ambíguos, dentro de si.

Este é, diria Michael, um livro feito de muitos que se diferenciam e se completam, numa melodia perfeita e única como a singularidade que os define. Já Glorianna Belladona diria que este é um livro feito das mais duras opções, que nos dividem e caracterizam e, se por ventura, estivéssemos no Antro, sob a guarda de Sebastian, este dir-nos-ia que este livro se compõe de medo, êxtase e paixão, riscos de sempre que nos dão sentido.
 
Mas este livro em particular é de Lee, de Zhahar e de Danyal, três que ainda não se encontraram, que ainda não travaram as suas lutas pessoais dependentes dos que já passaram. Esta é a sua história composta de dissonâncias que procuram a harmonia, forçosamente indecifrável no presente Asilo na cidade de Visão e, certamente, esperançosa, porque enquanto houver esperança existirá futuro e Efémera nunca esquece os que lhe pertencem.

Sei que não vos disse muito sobre o que realmente trata este livro, até agora, mas a complexidade que o caracteriza, que caracteriza Efémera, não me permite dizer mais sem vos revelar o todo que seria, para mim, impossível de expor por palavras. Digo-vos, ainda assim, que nesta narrativa encontrarão o amor por todas as coisas, entre casais, família, na simplicidade ou no inexplicável. Encontrarão felicidade e lágrimas, porque os caminhos nem sempre serão justos para aqueles que o leitor aprende a estimar, mas não deixa de ser o caminho necessário para que as personagens se reconstruam e se aceitem nas suas atitudes e opções. E encontrarão, também, lugares comuns nas palavras de Bishop, porque essa é uma das suas mestrias, expor através do surreal verdades palpáveis, por vezes com brutalidade mas muitas vezes com a resignação de que não se pode mudar o inato.

Em relação ao fantástico, este é indescritível. E em relação às suas arrepiantes criaturas merecem destaque os demónios, os que se confundem nas sombras e os que são uma individualidade e ao mesmo tempo três, como as Tríades, mas atenção que o mal aqui não é obrigatoriamente demoníaco - é apenas o que é -, é uma escolha. E provavelmente, por isto, nesta história o que realmente poderá assustar quem lê não tem contornos sobrenaturais, mas sim verdadeiros, em atrocidades que conhecemos independentemente de quem as comete.

Os cenários são de sonho, ou de pesadelo, por vezes. São dotados de uma beleza como só esta senhora consegue criar e com pormenores, requintes, feitos para maravilhar em lê. No entanto, sendo esta uma autora de equilíbrio, não é de espantar que muitas vezes me tenha deparado com o oposto, com a ausência total de fascínio por locais tristes, mas as coisas são como são.

Sem saber o que mais vos posso dizer, resta-me aconselhar este livro a todos os que tenha lido os livros anteriores do Mundo de Efémera, pois este é o mais sublime e proporciona um final perfeito. E para quem ainda não leu, recomendo a trilogia a todos os amantes de fantasia, mas de fantasia à séria, para mentes abertas e prontas para se deixar arrebatar por algo que é incomparável.

Digo sempre que Anne Bishop é a melhor, para mim é. Desde a sua trilogia Jóias Negras que não a via escrever tão bem e atribuir tanta intensidade a um enredo.

As suas descrições são uma das suas mais-valias, porque não é fácil dar a ver algo incomparável e, ainda assim, possível de conectar com a realidade. E os seus toques de perversidade estão presentes, como sempre, mas desta vez acho que lhe detectei algo de romântico, talvez porque este livro e o próprio mundo que criou está intrinsecamente ligado com os sentimentos dos intervenientes, pelo que está de parabéns.
 
Pessoalmente, idolatrei tudo nesta narrativa. Gostei particularmente de Efémera, enquanto personagem, moldável a quem a comanda mas com personalidade própria, quando assim deveria ser - divertiu-me.
 
Embora intenso, violento até, gostei igualmente das muitas pontuações de humor que a autora conseguiu atribuir ao texto e, é importante referir ainda, que considerei que a sua criatividade esteve em pleno, pelo que foi para mim um prazer imenso voltar a mergulhar numa história sua.

Esta é uma magnífica aposta Saída de Emergência que caracteriza bem esta editora, que se destaca como nenhuma outra no universo fantástico proporcionando aos leitores portugueses o melhor do género que se publica além-fronteiras.

Publicado em 30 Agosto 2013

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