Porque és Minha - Crítica no blogue Os Livros Nossos

Dando continuidade à actual tendência do mercado Português para livros do género erótico eis que chega até nós, com a chancela da Saída de Emergência, o romance Porque És Minha, de Beth Kery.

  É um livro erótico por excelência, e nem sequer se pode considerar soft, antes bem pelo contrário.

   A acção decorre entre Chicago, Paris e Londres, e vamos encontrar como personagens centrais da trama, como já vem sendo algo estereotipado neste género de histórias, um sexy, misterioso e sedutor multimilionário, de origem Britânica - Ian Noble, e uma inocente, vivaz, rebelde e curiosa artista plástica, a jovem Francesca Arno, que vem a travar conhecimento com Noble, pelo facto de ser a vencedora de um concurso artístico da qual Noble é Mecenas.

   Ambas as personagens vêm a revelar um passado traumático [e até aqui também nada de novo ou inusitado neste tipo de narrativas], cada um à sua maneira procuram encontrar formas de lidar com esses traumas.

   Ian e Francesca deixam-se prender por uma fortíssima atracção física, forte ao ponto de as descrições dos vários encontros entre ambos, pela forma como nos são caracterizados pela autora, parecem transmitir uma espécie de vibração eléctrica, uma energia que é quase visível e fácil de ser percepcionada pelo leitor.

  O que verdadeiramente agrada e surpreende nesta história são as constantes referências ao mundo da arte, ao processo criativo nas suas várias fases e nuances, sendo Francesca Arno uma jovem verdadeiramente talentosa e apaixonada pelo que faz, retratando emoções nas suas pinturas e captando o que sente e também o que a rodeia. E entre os protagonistas surge de modo bem nítido um elo cultural e artístico que vai para além da atracção física e sexual, mas que certamente também contribui para este aspecto, levando a aproximar duas pessoas que, pela idade, pelo contexto em que foram educados, e pelo estilo de vida que levam, são em tudo o resto distintos, excepto nas paixões que têm em comum, de forma inusitada.

   Uma das frases mais marcantes do livro é citada pelas personagens, sendo o título de uma pintura de Francesca, e acaba por descrever Ian Noble na sua mais pura essência:

" Eu sou o gato que anda sozinho, e todos os lugares são iguais para mim".

  O romance contém diversas descrições bastante detalhadas e explicitas de natureza sexual, alguma delas pautadas por alguma crueza, visto que Francesca, virgem aos vinte e poucos anos, irá despertar para a sexualidade com Ian Noble, que sendo um control freak na vida quotidiana, acaba por se revelar dominador em termos sexuais, retirando extremo prazer de práticas  de dominação neste âmbito.

   Se é certo que o livro não é suave neste tipo de descrições sexuais, e que mais de metade inclui sexo explícito, jogos sexuais, instrumentos eróticos, deve referir-se que se mostra bem contextualizada esta realidade, pois que vamos assistindo à evolução emocional e psicológica dos dois protagonistas, não sendo chocante se considerarmos que há consenso em todas as práticas aqui descritas.

  Uma das partes do livro que mais gostei foi a estadia em Paris, numa viagem relâmpago, onde Ian vai lutando consigo mesmo ao sentir-se completamente obcecado por Francesca, receando já envolver-se para lá da componente física.

   Francesca, por sua vez, vive dividida entre uma descoberta de todo um mundo sensual no qual era totalmente inexperiente, e o receio de, a todo o momento, perder Ian Noble, pois pela sua idade e expectativas, cedo começa a sentir algo mais pelo seu Mecenas do que mera atracção física e sexual, ansiando por saber mais e mais sobre a sua vida para além dos negócios, quer saber tudo sobre Ian, e ajudá-lo a combater os fantasmas de uma infância infeliz que têm repercussões evidentes no presente de ambos.

   Além dos protagonistas, ficamos a conhecer um bom leque de personagens que os rodeiam, e que acabam por interagir entre si, os amigos com quem Francesca partilha casa - com destaque para o seu confidente Davie - um simpático galerista! A eficiente Lin  Soong - secretária de Ian, a sua fiel Governanta - Sra. Hanson, Jacobo, o motorista particular do Milionário, os aristocráticos avós de Ian - os Condes de Stratham, e o melhor amigo de Ian - Lucien Lenault (Gerente de um restaurante de renome).

  Por entre aproximações e períodos de distância mais ou menos forçada, Francesca e Ian assumem-se como amantes, irá o amor vencer o passado pesado de Noble?

  E que mundo secreto esconde Londres? Pode esse segredo de Ian Noble ser poderoso ao ponto de impedir um futuro com Francesca a seu lado?

  Um livro envolvente, bem escrito, assumidamente erótico, mas que vai além dessa componente, contendo referências culturais e trazendo ao de cima algumas reflexões sobre o mundo psicológico de personagens que podiam perfeitamente ser reais, nos respectivos dramas, defeitos e virtudes!

Gostei e recomendo aos amantes do género erótico.

Publicado em 27 Fevereiro 2013

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