Rainha Vermelha - Crítica em Pedacinho Literário

A componente visual desta obra do fantástico arrebata-me por completo. Adoro os pormenores da capa, o metalizado do sangue, a simplicidade da coroa, o contraste entre vermelho e prateado – que ganha todo um novo significado uma vez percorridas as suas páginas. Tudo se complementa de forma extraordinária, com uma beleza impressionante, e que vem elevar, ainda mais, as expectativas sobre o que se encontra dentro de tão impressionante embrulho. E deixem-me que vos diga que Rainha Vermelha não desilude. 
 
Mare Barrow é uma jovem de dezassete anos que vive num mundo dividido pela cor do sangue. De um lado temos os Prateados – poderosos, com habilidades sobrenaturais, intimidantes e governadores do reino – e do outro temos os Vermelhos – a plebe, os fracos, os que se sacrificam e se submetem em prol de um pouco de segurança, de comida na mesa, de uma vida familiar longe da guerra. Mare Barrow sangra vermelho mas o seu espírito, a força de que se encontra dentro dela, é Prateada e essa mistura das duas classes irá trazer-lhe problemas – muitos problemas. 
 
Gostei bastante de Mare enquanto protagonista desta história. A sua alma é genuína, e foi muito bom ver que a opulência do outro lado da realidade que conheceu durante toda a sua vida não a mudou nem tão pouco definiu o que estabeleceu para o seu futuro. Mare sabe que é diferente, que não é como a sua irmã mais nova, Gisa, que tem um dom natural para a construção das mais belas peças de vestuário, nem como os seus irmãos mais velhos, Shade, Bree e Tramy que sempre treinaram para a possibilidade de terem de sobreviver no campo de guerra, nem tão pouco como Kilorn, o seu melhor amigo, que parece estar seguro na sua personalidade e no seu lugar no mundo. Mas Mare é especial, e essa sua particularidade vai levá-la à mais perigosa, dúbia e impressionante aventura de sempre. 
 
Com excepção de Mare, gostei imenso de Shade – aquela única carta familiar a que temos acesso é de partir e aconchegar o coração, tudo ao mesmo tempo – e de Lucas – simplesmente adoro a sua aura prateada com mesclas de vermelho. Infelizmente, não consegui criar nenhuma ligação forte com nenhum dos príncipes, Cal e Maven. Cal porque penso que é demasiado implacável e embora a sua seriedade e crenças sejam algo a seu favor, quando dizia respeito a Mare e a Evangeline, penso que as suas emoções eram um pouco frias e não consegui sentir nada real, nada arrebatador, vindo da parte dele. Já Maven, não sei bem como explicar a minha relação com esta personagem. Desde o início que foi muito amor-ódio e penso que os meus instintos estavam a prever algum tempo de revelação inesperada – mais não digo. Mas é figura que não me convenceu mas que estou muito curiosa de ver em desenvolvimentos futuros. Quanto a Evangeline Samos, gostava de ter visto uma garra mais maligna, mais inflexível – mais ao estilo de Elara, a Rainha. 
 
Adorei as várias habilidades dos Prateados e a demonstração das mesmas na cerimónia de escolha das futuras princesas. Penso que este é um dos elementos mais fortes do imaginário e da escrita de Victoria Aveyard, e aquele pelo qual mais anseio a nível conhecimento, de entretenimento. Gostei imenso de todo o conceito por detrás deste componente, do facto destas habilidades não poderem ser criadas, somente manipuladas, e dos pequenos confrontos mensais entre as várias casas e os diversos poderes. 
 
O que não me agradou por aí além foi o romance. Existe um ponto na história em que o triângulo amoroso se transforma num quadrado e se dois dançam o tango mas três são demais, conseguem imaginar quatro? Victoria Aveyard precisa de explorar melhor as relações entre personagens e isso recai, negativamente, no suposto par/triângulo/quadrado amoroso tendo em conta que nenhum deles é forte o suficiente, e carismático o suficiente, e arrebatador o suficiente para se tornar credível. No que diz respeito a intriga, lutas de domínio, descrições ambientais e até de acção, Aveyard é magnífica mas quando se passa para o campo emocional, para aqueles pequenos pontos na história que necessitam de ser ligados entre sim com emoções, e relações, e sentimentos, Aveyard falha. Estou a fazer figas para que esta seja uma situação melhorada e ultrapassada no próximo livro pois esta é uma trilogia com tanto potencial, e com tanto de inovador e original, que seria uma pena as personagens sobreviverem por si mesmas e não umas com as outras. 
 
No final de contas, e mesmo com um ou outro aspecto menos positivo, confesso-me agradavelmente surpreendida com Rainha Vermelha e em tudo curiosa com o que aí vem – principalmente tendo em conta o final inesperado deste primeiro volume. Farley deixa muita expectativa no ar e agora que parte do véu sobre a Guarda Escarlate foi revelada... hmmm... mal posso esperar. É só isso que consigo dizer – mal posso esperar! Glass Sword – outra capa magnífica! – é publicado, no original, em Fevereiro do próximo ano. Façam figas para que não demore muito tempo a chegar a território nacional. 
Publicado em 12 Outubro 2015

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