Rubrica Autor vs Autor no blogue Refém das letras

O primeiro duelo do "Autor vs Autor" centra-se no campo da fantasia. O Refém das Letras contará com o apoio da Saída de Emergência que, logro em dizer, é a editora que nos oferece o melhor conteúdo neste género que eu particularmente aprecio. Seleccionei dois dos autores que, a meu ver, se sobrepõem a outros por variadas razões. São eles o escritor d' As Crónicas de Gelo e Fogo, George Martin, e o criador da série O Mago, Raymond Feist (o primeiro à esquerda, o segundo à direita):

  

Ambos os autores são mestres nesta área da literatura, cada um à sua maneira. Vejamos primeiro o caso de Martin: iniciando-se como um escritor de ficção científica e guionista de produções de Hollywood, George R. R. Martin tornou-se um estrondoso sucesso com a sua famosa saga As Crónicas de Gelo e Fogo, uma história sobre interesses políticos e ambições de poder. Esta saga já conta com cinco volumes publicados (edição original) e estão previstos mais dois. A saga, de tão bem sucedida, foi adaptada para uma série televisiva que tem o título do primeiro volume, A Game of Thrones. Porquê tanto sucesso? Porque Martin escreveu uma história inédita e invulgar dentro do fantástico, dotada de uma qualidade impecável que agrada tanto a amantes do fantástico como àqueles que apreciam sobretudo um bom romance. Isto deve-se ao hábil engenho que Martin possui ao elaborar as suas personagens, que são sem sombra de dúvida o trunfo de toda a sua obra. Existem imensas figuras referidas nas suas histórias, mas há aquelas que como intervenientes principais da trama se destacam e é com eles que Martin faz dos seus livros romances épicos. O objectivo das personagens em questão é o trono, o poder, e por eles cada um luta ávida e implacavelmente. Como já referi em opiniões aqui no blogue, os capítulos desta saga estão divididos por personagens, ou seja, cada capítulo relata situações vividas por determinada personagem. No entanto, Martin não se limita a narrar. Este explora e esventra cada figura na sua intimidade, revelando os sentimentos característicos de cada uma, numa escrita corrente e imparável com poucas descrições. Assim, o leitor aproxima-se bastante das personagens, ficando com a ideia de que as conhece desde sempre. E é quando estamos verdadeiramente cativados por uma delas que Martin nos atormenta com acontecimentos brutais e inesperados que mudam todo o decorrer da história, sendo um choque porque Martin não nos prepara para tal. A imprevisibilidade é outro factor que joga a favor dos seus livros, e que por vezes nos delicia e por outras é algo terrível que nunca esperaríamos.

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O que, na minha opinião, falta nesta saga e a tornaria uma verdadeira obra-prima é a própria característica do género: fantasia. Ainda só li os três primeiros volumes (versão Portuguesa) e talvez este aspecto compareça nos próximos volumes. Embora esta seja uma saga que consegue existir apenas das suas personagens e respectivas intrigas, penso que adicionar um pouco de magia e sobrenatural seria muito interessante, ampliando ainda mais a minha admiração por estes maravilhosos livros. Afinal, um cenário tão auspicioso e imponente merece algo mágico que o torne grandioso. Os ingredientes já introduzidos por Martin resultam magnificamente e resultariam ainda melhor se o autor apostasse fortemente no carácter sobrenatural.

É, contudo, o que falta nesta obra de Martin que abunda no universo de Feist. Logo em O Mago: Aprendiz, deu para perceber que magia não é apenas uma referência para adornar o título do livro. Nas suas páginas, Feist elabora um mundo de magia repleto de misticismo e criaturas singulares que depressa cativam o interesse e dão um toque especial à trama. O que também diferencia a obra de Martin da de Feist é o modo de escrita, que neste último é mais particularizada, descrevendo cenários e situações detalhadamente, o que por vezes torna a leitura morosa. Neste aspecto, Martin vence por apresentar uma escrita bem mais fluente, ainda que complexa em alguns momentos.
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Ainda assim, é possível encontrar alguns pontos em comum, com as suas próprias variantes dentro de cada obra. Um deles são as personagens. Também Feist as explora bem, destacando desde cedo aspectos cativantes de cada uma. N' O Mago são em muito menor número os participantes do enredo, e talvez por isso nos apeguemos mais aos mesmos, principalmente Pug e Tomas. Mas é Martin, que mesmo com mais personagens para apresentar e caracterizar, consegue triunfar relativamente às personagens de Feist, já que Martin faz delas o ponto essencial de toda a história. Ainda importante destacar que ambas as histórias assentam em interesses políticos e reinados que lutam pelo poder, e em ambas as histórias se constrói um engenho que evidencia as ambições de uns e de outros, havendo inevitavelmente episódios de luta bem construídos que aumentam o ritmo da narrativa.

Portanto, se nos focarmos naquilo que o próprio género deve demonstrar, sobrepõe-se claramente O Mago como uma obra fascinante quanto ao conteúdo de fantasia e elaboração de personagens que facilmente se relacionam com o tema, cativando o leitor. Contudo, se nos referirmos à própria obra, As Crónicas de Gelo e Fogo superam em qualidade, quer quanto às personagens quer quanto ao impacto que o desenrolar da trama provoca no leitor. São obras distintas que, na sua singularidade, tocam em variadíssimos aspectos que fazem delas sucessos incontornáveis da literatura fantástica.

Publicado em 10 Abril 2013

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