Sue Monk Kidd e a sua voz no desbravamento do caminho à liberdade

O último romance de Sue Monk Kidd dá uma voz visceral aos conflitos que abarcam escravatura, etnia e género

Sarah Grimké, a abolicionista do século XIX e a pioneira dos direitos das mulheres, está no coração do poderoso romance histórico de Sue Monk Kidd. Decorrido – tal como o seu romance bestseller de estreia A Vida Secreta das Abelhas – no Sul dos EUA, onde cresceu, A Invenção das Asas relata corajosamente a brutalidade da escravatura com detalhe minucioso e vívido, colocando-a dentro da tradição de romances como Beloved (1987) de Toni Morrison e relatos na primeira pessoa como o livro de Solomon Northup Doze Anos Escravo (também um premiado filme).

Este é um mundo em que «ter pessoas como propriedade é tão natural como respirar» e no seu décimo primeiro aniversário, Sarah, filha de uma família influente, recebe como presente a menina escrava Hetty, de 10 anos, adornada com laços de lavanda. Mas para Sarah, está longe de ser «natural», e ela protesta contra a noção de escravatura, ensinando Hetty a ler e prometendo libertá-la um dia – uma eventualidade que conduz o enredo à medida que os anos passam de 1803 a 1838. Ao alternar capítulos entre as vozes da primeira pessoa de Sarah e Hetty, sentimo-nos absorvidos por ambas as perspectivas; elas partilham um desejo visceral e «dores torrenciais» pela igualdade étnica e de género. Rebeliões diárias contra a injustiça povoam a trama. «Fazes as tuas rebeliões da maneira que puderes», observa Hetty quando a mãe é castigada por roubar tecido do seu amo para uma colcha cujo padrão colorido vai contando uma história. «Tenho nós nos anos que não consigo desfazer», lamenta Hetty, mas, ponto a ponto, um futuro com mais esperança é tecido.

Num mundo oprimido com a escravatura dos tempos modernos, este é um romance profundo e luminoso. É uma história sobre encontrarmos a voz para expressar a dor indescritível. A «língua escrava» de Hetty é preenchida de mágoa, esperança e ousadia, enquanto Sarah, que luta pela sua voz, «puxa palavras da sua garganta como se tentasse retirar água de um poço.»
É quando encontramos a nossa voz para articular a dor de termos sido silenciadas por tanto tempo que desbravamos o nosso rumo até à liberdade.

Publicado em 13 Agosto 2015

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