Tigana A Lâmina na Alma - Crítica em Ler y Criticar

O que vale a cultura de um povo? Até que ponto, enquanto sociedade, precisamos da história dos nossos antepassados? De a contar e recordar, passá-la aos mais novos, ensiná-la aos estranhos...
 
Para mim, Tigana é sobre um povo que perde a sua identidade, o seu passado, e sem isso, uma parte de nós dissolve-se. Quer seja num contexto religioso, filosófico ou simplesmente geográfico, o ser humano sempre quis saber se onde veio, quais as suas origens. E tendo como base, quase invisível, esta ausência, o autor cria um mundo que prende por essa originalidade.
 
Este Tigana (livro um de dois) é uma leitura singular por várias razões, sendo a primeira a forma como o autor escreve e o ritmo que emprega na narrativa. No início fica a sensação que estamos a ler algo que demora muito a introduzir o que é necessário para que a história comece a desenvolver, e de repente um surpreendente acontecimento é despoletado, marcando o livro e elevando o ritmo de acontecimentos para o extremo oposto... e depois, novamente, baixa durante várias páginas, voltando a introduzir outros temas, outras personagens, e novamente, quando menos se espera, um acontecimento desperta-nos e mostra-nos que o autor sabe o que está a fazer. É como se nos quisesse adormecer para nos assustar quando começamos a fechar os olhos...
 
Outro aspeto interessante é que, apesar de estarmos perante um mundo extenso e cheio de intervenientes, o autor explora muito poucas personagens. Se formos analisar o livro como um todo, apenas 5 ou 6 personagens são realmente exploradas neste livro, mas devo também dizer que o são de forma fantástica. Destas personagens cada leitor terá os seus favoritos e no meu caso, há uma que se destaca: um homem, que não revelarei o nome, e que é a imagem da obsessão e consequente arrependimento de quem desperdiça toda uma vida a criar planos para um objetivo e apenas tarde demais percebe o quantos alguns atos e palavras poderiam ter feito a diferença, principalmente para as pessoas que se ama. É esta mágoa, num momento impressionante do livro que marca esta personagem e, indiscutivelmente, o livro. Quem ler esta obra, perceberá do que falo.
 
Deixando o enredo e o mundo criado pelo autor para a análise ao 2º livro, devo ainda mencionar o facto de o autor ter criado dois vilões, fugindo a um caminho muito usado de apenas um vilão nas histórias de fantasia. Para além disso, o facto de os dois vilões serem das personagens mais aprofundadas, ajuda a termos uma visão mais global do que acontece e aconteceu neste mundo. Estes momentos em que conhecemos as personagens são o palco onde o autor parece estar melhor, voltando a momentos do passado para nos mostrar o crescimento das personagens e, principalmente, dos seus motivos. Neste aspeto é notório que estamos perante um escritor que sabe o quanto o "porquê" é importante para nos identificarmos com a personagem e sua demanda. 
 
Para já, e visto que estamos perante um livro que é a metade do original, não me irei alongar mais. Tigana é um livro que respira qualidade e que nos surpreende em alguns momentos, no entanto apenas a continuação me poderá dizer se estou perante algo que é realmente bom. Para já, tem tudo para o ser, e a crítica especializada assim o diz. Se gostam de uma obra de fantasia onde a construção do mundo e personagem é importante e não se importam de ter uma leitura com um ritmo mais lento, este parece-me ser uma excelente aposta. Estou muito curioso para ver como tudo acaba.
Publicado em 21 Janeiro 2014

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