Tigana A Voz da Vingança - Crítica no Ler y Criticar

Esta é a segunda metade do original Tigana, e por isso o seu enredo começa onde o anterior acabou, sendo aconselhável que os dois sejam lidos sem grande distância temporal. Esta questão prende-se com o facto de existirem detalhes que podem fazer a diferença na forma como vemos o enredo e tentamos antever a história.
 
E é nesses pequenos detalhes, que podemos esquecer durante a leitura, que está uma das várias grandes qualidades deste livro.  O autor oferece várias pistas durante todo o enredo, pistas essas que fui anotando para melhor compreensão (e também para fazer esta análise) e que realmente encaixam no enredo. No fim fica a sensação de plenitude em relação aos temas mais importantes do enredo, apesar de ficarem alguma perguntas no ar, a verdade é que percebemos que a a história tem um fim e que este é muito bem conseguido e planeado desde a primeira página.
 
Este 2º volume de Tigana continua com a sua narrativa lenta durante a grande maioria das páginas, para nos surpreender quando menos esperando, aumentando o ritmo e criando momentos cheio de ação ou com diálogos reveladores. É esta "montanha-russa" no ritmo que torna o livro ainda melhor, pois senti que em alguns momentos não consegui antecipar o que iria acontecer. Também os temas principais do enredo se mantêm, tal como seria de esperar, com várias questões que se levantam, desde as várias formas de controlo populacional passando pela forma como se pode criar uma revolução. Uma das questões que este livro levanta, mesmo que indiretamente, é algo que certamente muitos estudam há vários anos: o que é preciso para se começar uma revolução? Como colocamos, numa civilização apática e resignada, a ideia de que algo melhor pode e deve ser alcançado? Como convencemos as pessoas a lutar por algo melhor, sejam quais forem os riscos?
 
Mas, para mim, o grande trunfo deste livro está nas personagens, principalmente nos vilões. Brandin é um dos personagens mais fascinantes que já vi, principalmente tendo em conta que aparece tão pouco. O autor consegue criar dois vilões bastante distintos, principalmente na forma de governar, e que criam reacções diferentes nos leitores. Muitos são os autores que criam vilões com uma vertente mais desumana, mas Kay dá foque, principalmente, à parte mais humana dos mesmos, informando os leitores do porquê de governarem e porque o fazem daquela forma. E assim criamos uma ligação mais próxima com os vilões e somos mais neutros em relação aos motivos de cada personagem, boa ou má.
 
Do outro lado estão personagens boas e é difícil escolher um ou duas para mencionar nesta análise. Não demoramos muito a perceber que o autor explora as personagens, os seus passados, dá-nos os motivos e objetivos de cada uma, e existe a sensação que temos pleno conhecimento do essencial. Claro que para que tudo isto seja explorado, também fica a clara noção de que o enredo desde o início até ao fim não desenvolve o que seria de esperar de dois livros deste tamanho, pois muito do que está escrito é sobre o passado... mas em nenhum momento tal retira qualidade ao livro. 
 
Tigana é um enredo sobre o qual não me quero alongar. A essência deste livro está em descobrir as ligações entre personagens e seus passados, é ver como é importante saber de onde viemos e para onde vamos. a nossa identidade está nesse conhecimento que devemos passar às gerações futuras, porque sem um passado, nada temos para contar. Em alguns aspetos, Tigana tenta passar uma mensagem sobre a nossa própria existência neste mundo onde tudo está ligado, e assim transforma-se num livro mais profundo, com mais qualidade, e sobre o qual devemos pensar quando o acabarmos. Não é um livro rápido nos prende desde a primeira página. Tigana conquista-nos aos poucos e para sempre. Um nome que não esquecemos.
Publicado em 24 Abril 2014

Arquivo

2023

2022

2021

2019

2018

2017

Visite-nos em:

Revista Bang Instagram Nora Roberts facebook youtube
Amplitude Net - e-Business