Windhaven - Crítica no blogue Ler y Criticar
George R. R Martin sofre o mesmo que qualquer outro autor que tenha atingido tão grande feito com um livro/saga... o peso da expectativa. Por exemplo, J. K. Rowling sofreu com essa expectativa quando voltou à literatura depois da saga Harry Potter, e imaginem, se Tolkien estivesse vivo e voltasse a escrever. Quais seriam as nossas expectativas? Poderiam matar a própria obra?
No meu caso, este foi o primeiro livro que li de GRRM fora do universo de Westeros. É verdade que o livro já foi escrito há muitos anos, antes de A Guerra dos Tronos, mas para mim as expectativas serão sempre altas, pois estamos a falar de um autor que, em alguns aspetos, alterou a forma como o leitor sente o que está a ler. No entanto, volto a fazer um esforço para baixar as expectativas e ler esta obra como se fosse de um autor que não conhecesse. Mas, para aqueles que queiram desde já saber uma opinião objetiva, digo o seguinte: este livro de GRRM com Lisa Tuttle, tem muita qualidade, tem muitos pormenores que vemos em Westeros, mas não é, e provavelmente não o poderia ser, um marco na literatura como é o seu primeiro A Guerra dos Tronos. Não podemos, nem devemos, comprar um único livro com uma saga tão grande. Este Windhaven é um livro com um fim e é muito bom em alguns aspetos.
Em primeiro lugar digo-vos que me foi difícil entrar no mundo criado. Não na parte geográfica ou política, mas na mentalidade, na importância/valor dado às assas. O mundo é bem criado, tem alguns toques originais e percebe-se a sua dinâmica, mas o facto de pessoas lutarem tão ferozmente pelas suas assas, foi algo que no início pareceu forçado. No entanto, enquanto vamos lendo o livro, essa sensação desaparece, principalmente porque começa-se a perceber o estatuto que as mesmas oferecem, e principalmente, começamos a ver que nenhuma personagem está isenta de falhas nesta história. E é aqui que GRRM entra (sem retirar qualquer mérito a Tuttle), com as suas personagens realistas, nunca totalmente boas, nunca totalmente más.
Maris, personagem principal consegue tornar-se com facilidade numa excelente criação destes autores. A sua transformação/adaptação durante o livro é de assinalar e se juntarmos a isto o facto de estarmos perante uma personagem que falha, que desilude, que luta, que não é totalmente boa ou má... tudo isto torna a história mais realista. Infelizmente as outras personagens não apresentam esta qualidade, mas nota-se que nunca foi objetivo conhecermos quem rodeia Maris, aumentando assim a intriga e o impacto de algumas revelações, e não diminuindo o ritmo.
Temos conflitos, decisões impossíveis e traições, tudo presente num jogo de bastidores que apenas vemos pela visão de Maris. O ritmo é lento durante metade do livro, acelerando bastante no fim onde o livro se torna melhor, não por ter mais ação ou mais surpresas, mas porque define a sua própria mensagem para o leitor.
Mais soft e menos violento do que esperava, com uma escrita fácil e simples, este é um livro sobre o poder dos sonhos, o evoluir de uma cultura estagnada e injusta, e torna-se num vislumbre sobre a força necessária para fazer o mundo olhar com respeito para os que estão em baixo, e não só para os que estão acima. O final completa o livro, como se o unisse numa mensagem clara e que o melhora bastante, e este é o tipo de final que mais gosto: ao não existir uma luta global entre bem e mal, o final nunca pode ser definitivo, mas sim o culminar de uma história de vida, de algo realista. As pessoas nascem, vivem, morrem e por muito que façam, por muito que alterem, o mundo continuará sem elas. Foi isto que GRRM nos mostrou em todos os seus livros que li.
Por vezes, uma pessoa consegue mudar o mundo, mas conseguirá essa pessoa antever tudo o que a mudança trará ao mundo? Existem várias formas de poder, mas quem o tem, nunca o quer perder.
O enredo não é o mais original que já li, longe disso, mas a construção do mundo torna o livro singular. Não conheço o trabalho de Lisa Tuttle, mas nota-se a sua mão com uma escrita mais "bonita", menos "negra". No entanto é muito fácil encontrar o toque de GRRM na forma como demonstra a personalidade das suas personagens com simples ações. Windhaven é um livro muito interessante e que em certos aspetos é até comparável com o nosso mundo, ajudando a transmitir uma mensagem importante, apesar de indireta.
Resumindo, Windhaven é um bom livro (que também será interessante para um público mais adolescente), que me deu imenso prazer a ler, principalmente a partir de meio. Uma excelente personagem principal, narrativa comovente, algumas reviravoltas (umas previsíveis, outras surpreendentes) e momentos onde é preciso tomar-se uma decisão, e não existe uma totalmente correta. Não é uma obra-prima, não é o melhor livro que li de GRRM, mas isso seria quase impossível e é verdade que muitos poderão ficar desiludidos, mas tudo dependerá das expectativas que levarem. Eu gostei imenso deste livro e recomendo-o.
No meu caso, este foi o primeiro livro que li de GRRM fora do universo de Westeros. É verdade que o livro já foi escrito há muitos anos, antes de A Guerra dos Tronos, mas para mim as expectativas serão sempre altas, pois estamos a falar de um autor que, em alguns aspetos, alterou a forma como o leitor sente o que está a ler. No entanto, volto a fazer um esforço para baixar as expectativas e ler esta obra como se fosse de um autor que não conhecesse. Mas, para aqueles que queiram desde já saber uma opinião objetiva, digo o seguinte: este livro de GRRM com Lisa Tuttle, tem muita qualidade, tem muitos pormenores que vemos em Westeros, mas não é, e provavelmente não o poderia ser, um marco na literatura como é o seu primeiro A Guerra dos Tronos. Não podemos, nem devemos, comprar um único livro com uma saga tão grande. Este Windhaven é um livro com um fim e é muito bom em alguns aspetos.
Em primeiro lugar digo-vos que me foi difícil entrar no mundo criado. Não na parte geográfica ou política, mas na mentalidade, na importância/valor dado às assas. O mundo é bem criado, tem alguns toques originais e percebe-se a sua dinâmica, mas o facto de pessoas lutarem tão ferozmente pelas suas assas, foi algo que no início pareceu forçado. No entanto, enquanto vamos lendo o livro, essa sensação desaparece, principalmente porque começa-se a perceber o estatuto que as mesmas oferecem, e principalmente, começamos a ver que nenhuma personagem está isenta de falhas nesta história. E é aqui que GRRM entra (sem retirar qualquer mérito a Tuttle), com as suas personagens realistas, nunca totalmente boas, nunca totalmente más.
Maris, personagem principal consegue tornar-se com facilidade numa excelente criação destes autores. A sua transformação/adaptação durante o livro é de assinalar e se juntarmos a isto o facto de estarmos perante uma personagem que falha, que desilude, que luta, que não é totalmente boa ou má... tudo isto torna a história mais realista. Infelizmente as outras personagens não apresentam esta qualidade, mas nota-se que nunca foi objetivo conhecermos quem rodeia Maris, aumentando assim a intriga e o impacto de algumas revelações, e não diminuindo o ritmo.
Temos conflitos, decisões impossíveis e traições, tudo presente num jogo de bastidores que apenas vemos pela visão de Maris. O ritmo é lento durante metade do livro, acelerando bastante no fim onde o livro se torna melhor, não por ter mais ação ou mais surpresas, mas porque define a sua própria mensagem para o leitor.
Mais soft e menos violento do que esperava, com uma escrita fácil e simples, este é um livro sobre o poder dos sonhos, o evoluir de uma cultura estagnada e injusta, e torna-se num vislumbre sobre a força necessária para fazer o mundo olhar com respeito para os que estão em baixo, e não só para os que estão acima. O final completa o livro, como se o unisse numa mensagem clara e que o melhora bastante, e este é o tipo de final que mais gosto: ao não existir uma luta global entre bem e mal, o final nunca pode ser definitivo, mas sim o culminar de uma história de vida, de algo realista. As pessoas nascem, vivem, morrem e por muito que façam, por muito que alterem, o mundo continuará sem elas. Foi isto que GRRM nos mostrou em todos os seus livros que li.
Por vezes, uma pessoa consegue mudar o mundo, mas conseguirá essa pessoa antever tudo o que a mudança trará ao mundo? Existem várias formas de poder, mas quem o tem, nunca o quer perder.
O enredo não é o mais original que já li, longe disso, mas a construção do mundo torna o livro singular. Não conheço o trabalho de Lisa Tuttle, mas nota-se a sua mão com uma escrita mais "bonita", menos "negra". No entanto é muito fácil encontrar o toque de GRRM na forma como demonstra a personalidade das suas personagens com simples ações. Windhaven é um livro muito interessante e que em certos aspetos é até comparável com o nosso mundo, ajudando a transmitir uma mensagem importante, apesar de indireta.
Resumindo, Windhaven é um bom livro (que também será interessante para um público mais adolescente), que me deu imenso prazer a ler, principalmente a partir de meio. Uma excelente personagem principal, narrativa comovente, algumas reviravoltas (umas previsíveis, outras surpreendentes) e momentos onde é preciso tomar-se uma decisão, e não existe uma totalmente correta. Não é uma obra-prima, não é o melhor livro que li de GRRM, mas isso seria quase impossível e é verdade que muitos poderão ficar desiludidos, mas tudo dependerá das expectativas que levarem. Eu gostei imenso deste livro e recomendo-o.
Publicado em 19 Agosto 2013